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Petricor: o doce aroma da terra renovada

No início do outono, com os dias ainda solarengos e as noites já frias, aproximam-se as primeiras chuvas da estação. Nestes dias de chuva pouco intensa, há um odor inconfundível, emanado pela terra, originado pelo petricor. Este é muito mais do que uma fragrância: é a expressão natural da terra que se reinventa e nos acolhe. É um perfume etéreo que desperta memórias e sentimentos agradáveis.
Este aroma único nasce da interação entre a chuva e os compostos químicos da terra. Em primeiro lugar, temos a ação de umas bactérias específicas, que reciclam matéria orgânica e dão origem à geosmina, um composto orgânico com propriedades aromáticas muito vincadas, às quais chamamos o “perfume da terra”. Quando há humidade no ar e no solo, a geosmina é produzida com maior intensidade, preparando o terreno para a explosão olfativa tão característica do petricor.
Quando as gotas de água da chuva (particularmente aquelas entre 1 e 3 mm de diâmetro) atingem o solo, o seu impacto gera pequenas bolhas de ar. Estas, ao subirem à superfície da gota de água, libertam aerossóis, que são suspensões de partículas minúsculas (neste caso a geosmina) num gás (neste caso o ar).
Desta maneira, as moléculas aromáticas de geosmina espalham-se pelo ar, levando a que o nosso apurado sentido do olfato as detete. De seguida sentimos algo que nos inebria e que, apesar de invisível aos nossos olhos, pode ser captado por câmaras de alta velocidade e com grande resolução.
A seguir deixo uma hiperligação para aceder a um vídeo e peço ao leitor que tenha paciência de colocar num motor de busca da internet:
https://www.youtube.com/watch?v=Waqmq_GTyjA
Poderá aceder a partir do QR Code colocado no fim deste texto.
A hiperligação permite visualizar um vídeo sobre o mecanismo de formação dos aerossóis. Repare no borbulhar das gotas de água e na dimensão dos aerossóis que delas emanam.
Para muitos, o petricor não é só um cheiro, pois traz consigo uma sensação de renascimento. Marca o fim da seca e anuncia o alívio dos infindáveis dias quentes de verão dado que, nesta altura, o ambiente se reveste de frescura.
O termo “petricor” foi usado 1964 pelos geólogos Australianos, Isabel Bear e Richard Thomas. A sua origem é grega e significa “fluído da rocha”. Os dois cientistas empregaram o termo para descrever o aroma térreo que emerge quando o óleo produzido por plantas e absorvido pela terra, durante os períodos de seca, é libertado com a geosmina durante a chuva.
Acrescento que o nariz humano é extremamente sensível à geosmina, sendo capaz de a detetar em concentrações muitíssimo baixas e a longas distâncias.
No entanto, o petricor transcende a ciência. Quando o céu obedece ao ciclo das estações e a terra exala este perfume, somos convidados a desacelerar. É um aviso para gozarmos os ciclos que a natureza nos proporciona, mas também uma prova da resiliência da vida e da beleza que podemos descobrir nos mais ínfimos detalhes. É, em suma, o cheiro da renovação, palpável e perfumada.

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