A opinião de ...

Os clubes e os treinadores

Não obstante os meios financeiros que a ele estão associados, cada vez mais, nos tempos que correm, o mundo do futebol funciona num contexto de imprevistos, de incertezas, e até de relativa incompreensão.
Como é hábito dizer-se, no futebol, tal como na política, o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira, levando a concluir que, mesmo tratando-se de uma actividade desportiva, está repleto de ambiguidades, de contradições e, sobretudo, de falta de credibilidade. Bem diferente, portanto, da filosofia inerente aos princípios elementares do desporto.
Vem isto a propósito das mudanças de treinadores, ou mesmo das popularmente designadas “chicotadas psicológicas” a que é comum assistir-se no futebol português, que, diga-se em abono da verdade, pouco difere em relação a tantos outros “futebois” por esse mundo fora.
Como diz o povo, “por tudo e por nada”, já se assiste à mudança de técnico, nesta ou naquela colectividade, como se, na maioria dos casos, fosse, desse modo, encontrada a solução mágica para resolver os problemas de uma equipa de futebol, nomeadamente quando os resultados competitivos não são os esperados.
Se é certo que, algumas vezes, as “chicotadas psicológicas” parecem resultar, mesmo que o mérito não seja, por inteiro, de um novo técnico, não é menos verdade que são inúmeros os casos que “é pior a emenda que o soneto”.
Tendo em conta as evoluções que se têm verificado no setor futebolístico, em que tudo deve ser devidamente programado, a tomada de posição dos responsáveis directivos, relativamente à alteração de um treinador, deveria ser objetivamente ponderada. É que, às vezes, troca-se o treinador por “dá cá aquela palha”, sem, sequer, ter em conta o trabalho que o mesmo desenvolveu e aquele que poderá vir a desenvolver de uma forma mais ou menos sustentada, não salvaguardando, sequer, as eventuais estratégias e planificações entretanto já iniciadas.
Mas será que num clube de futebol só os resultados competitivos menos bons, que acontecem numa determinada fase temporária, são suficientemente importantes/determinantes para o futuro do mesmo?... É óbvio que as coisas não poderão ser vistas dessa forma, pois há muitas outras variáveis a ter em conta, que não devem ser menosprezadas. Antes pelo contrário. Por exemplo, a disciplina e a organização interna do clube, a gestão eficaz de outros recursos humanos, etc.
Todavia, como é do conhecimento público, raramente são equacionadas outras soluções, salvo a substituição/destituição pura e simples do técnico principal, como se do mesmo dependesse toda a dinâmica conjuntural, ou que essa decisão venha a implicar mais encargos financeiros para as respectivas agremiações desportivas, muitas delas a passar por situações pouco confortáveis, a esse nível.   
Por outro lado, quantas vezes não haverá pressões que nada têm a ver com resultados, mas sim com interesses pessoais/particulares, para que se verifique uma mudança de técnico?!... Neste contexto, penso que também deveriam ser postas em causa as aptidões/competências, bem como os desempenhos de muitos dirigentes, demonstrando, em alguns casos, muita falta de capacidade para dirigir e gerir os recursos económicos e humanos das colectividades. Aliás, neste domínio, existe muita falta de preparação, a diversos níveis, mesmo até no que toca à formação cívica e desportiva, para não falar na ausência de criatividade e dinamismo associativo
 

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