A opinião de ...

Um moinho de água a funcionar!...

Oriundo, que sou, do meio rural, sem nunca omitir, muito menos esconder, as minhas origens aldeãs, devo confessar que sinto uma motivação acrescida para escrever sobre as maravilhas da natureza, das tradições e dos usos e costumes das gentes nordestinas ligadas à terra.
Por outro lado, gosto de observar o que acontece nas nossas aldeias e ficando triste ao perceber o quanto se desvaloriza muito do património material e imaterial, que lhes é inerente, mas que ainda é olhado como referência de identidade e afirmação local, mesmo nas aldeias, já quase sem gente.
Nesta minha relação entre a cidade e a aldeia, às vezes até fico a pensar que, mesmo aqueles cujo berço se centralizou no meio rural, depressa esquecem o que isso significa, não se preocupando em que “deixar cair” a sua identidade natural.
E se no interior se ouvem muitas queixas do esquecimento a que somos votados pelo poder central, de Lisboa, não é menos verdade que a filosofia de atuação política e gestão de recursos, parece não mudar muito na relação entre as cidades, ou sedes de concelho, e o meio rural.
Às vezes até dá a ideia que os concelhos não são mais do que as suas sedes, as aldeias circundantes, ou, uma ou outra, onde os presidentes de junta se “vendem”, ou é liderada por um “cacique – Chico esperto”, bajulador do poder municipal.
Vem isso a propósito da falta de aproveitamento dos recursos turísticos rurais, com especial destaque para a dinamização, publicitação, conservação e aproveitamento pedagógico do património histórico e natural.
Na minha freguesia, Macedo do Mato – Bragança, por exemplo, existem três moinhos de água devidamente recuperados e prontos a funcionar. Dois localizados na nas margens da ribeira de Frieira e o outro em Sanceriz.
De fácil acesso, até porque dois deles estão implantados no perímetro urbano das aldeias (Frieira e Sanceriz), seria mais que natural e óbvio que as instituições autárquicas e turísticas aproveitassem esses recursos para promoverem não só visitas às localidades e aos moinhos, como também fossem potenciados/explorados fins pedagógicos, sobretudo no contexto do conhecimento do ciclo do pão.
Estou convencido que a maior parte dos alunos das escolas do concelho de Bragança, por exemplo, ainda não observaram um moinho tradicional a funcionar ao vivo, ou seja moendo, movido com a força natural da água.
Também não tenho conhecimento que tenha sido feita alguma divulgação institucional de que os moinhos funcionam e podem ser visitados.
Ontem, feriado nacional, aproveitei para passar mais um dia na minha aldeia.
Como é natural, reparei, uma vez mais, no desleixo a que está votado o património histórico existente, sobretudo a ponte românica, o pelourinho e o cruzeiro, bem como o espaço envolvente e a confrangedora falta de iluminação noturna.
Porém, não posso deixar de louvar e enaltecer o facto de alguns habitantes da localidade ainda aproveitarem o moinho existente para moerem os cereais, nomeadamente para a farinha destinada aos animais.
Em pleno mês de Junho ainda há água mais que suficiente para fazer mover a mó do moinho. E ouvindo o som caraterístico do seu funcionamento, lá fui eu ver o moinho trabalhar, diria moer, aproveitando para mostrar já à minha neta, com apenas dois anos, o que é um moinho.
Hoje, continuará a moer, e, talvez, …amanhã…ou depois!...
Assim, aproveito este espaço, não só para divulgar esta tradição que sobrevive, como também para alertar o poder autárquico local e concelhio para o interesse que terá uma divulgação do funcionamento do moinho de Frieira, no sentido de poder ser visitado em plena laboração, sobretudo por crianças/jovens em idade escolar, sendo aproveitadas, essas visitas, para fins pedagógicos e culturais e divulgação da história, usos e costumes locais.
É que os concelhos não são só as cidades ou as vilas, há para além dessa centralidade, para ver, visitar e observar, MUITO MAIS!...
 
 

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