A minha primeira viagem a Mogadouro
Uma vez que já estou reformado, hoje lembrei-me da primeira vez que vim a Mogadouro, ainda namorava eu com a minha mulher e ela quis que eu conhecesse a sua terra. De Mogadouro, só conhecia “Os Meus Amores” de Trindade Coelho, livro que o meu querido avô e padrinho materno me ofereceu, era eu ainda muito jovem e que eu adorei ler. Saímos do Porto, onde estudávamos na Faculdade de Letras, num pequeno “autocarro” que então existia numa empresa de Mogadouro e, começamos a viagem. Confesso que gostei do que ia vendo só não gostei, das “ curvinhas do Marão” que, na altura eram terríveis de fazer, tantas eram as curvas e contracurvas.
Depois, a viagem tornou-se melhor e cá chegamos a Mogadouro. Quando saímos do autocarro senti um ventinho muito frio e agreste e lembrei-me de um ditado popular que diz o seguinte: “de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento”. Um senhor de idade perguntou-me ao ver-me tão apoquentado com o frio, “O senhor não é daqui de Trás-os-Montes, pois não?” e eu disse-lhe; “não, não sou, sou do Minho”, então ele, com a sabedoria da idade disse-me; “olhe que aqui há nove meses de inverno e três de inferno”.
Feitas as apresentações à família da minha namorada, o seu Tio Mário Augusto de Oliveira (Tio do meu futuro sogro), depois do jantar começou a explicar-me a terra onde eu agora estava. Fiquei admirado com a sua cultura, vindo a saber que ele tinha estado no Brasil muitos anos e resolveu voltar para a sua terra (um brasileiro de torna-viagem), como então se dizia. No dia seguinte, levou-me a conhecer as pessoas que ele me queria apresentar, assim conheci o Dr. Alves dono da Farmácia mesmo ao lado da sua casa e que para nossa alegria e espanto, era sócio do Boavista como eu, ficamos logo amigos. Daí fomos visitar o Sr. Barros dentista que, também para espanto meu, era minhoto, de Vila Praia de Âncora. Ficamos logo amigos e, quando vim viver para Mogadouro, era “obrigatório” eu ir quase todos os dias a sua casa para falarmos e ele emprestava-me os seus livros, sobretudo de História. Uma verdadeira maravilha. O meu Tio Mário, sabendo que eu era de História, levou-me a conhecer a aldeia de Vilarinho dos Galegos e outras povoações onde havia marranos que muito sabiam das suas tradições ancestrais. Também visitei Bragança, que adorei. Foi assim que eu comecei a gostar muito de Trás-os-Montes e a querer aqui viver. Já na altura tive de fazer a minha “peregrinação” de professor de História: primeiro em Sendim, a minha primeira escola; depois Beja; também estive na Sertã e depois em Torre de Moncorvo, trinta e muitos anos, que adorei. Devo confessar que adoro Trás-os-Montes e os transmontanos. Muito obrigado pela vossa generosidade. “Haja saúde e coza o forno”, como aqui diz o povo.