A opinião de ...

Autenticidade. Autenticidades

egundo este jornal o responsável pelo Turismo do Porto e do Norte de Portugal foi a Rio de Onor em viagem de promoção turística, como não podia deixar de ser botou faladura, patati-patatá generalista pós prandial e, num assomo de genialidade retirada do manual do Senhor de la Palice, proclamou: autenticidade é o melhor argumento para atrair turista nacional. Li e reli a notícia, aumentando a minha perplexidade, pois o Nordeste (enfiado no ambíguo Norte de Portugal, o saudoso Afonso Praça dizia: não sou do Norte, sou de Trás-os-Montes) pauta-se por ser santuário de várias autenticidades e pseudo outras.
Não sei se no almoço da autenticidade foram apresentadas alheiras, apesar de estarem fora da autêntica época, a tecnologia conserva-as contribuindo para adulteração da cozinha transmontana, se foram deglutidas o seu passaporte de autenticidade foi emitido pelas burocráticas autoridades, ou provinham de genuína operação das Mestras cozinheiras da Lombada. Ninguém coloca em causa a autenticidade das alheiras da Adelina de Mirandela, seria revoltante pôr em dúvida as alheiras de Rio de Onor. Sendo assim, e é: quais são as mais autênticas? Este exemplo pode ser multiplicado por mil e um, e pergunto ao funcionário Martins: as alheiras de bacalhau elaboradas e apresentadas na Feira do Fumeiro de Vinhais são autênticas?
No campo da criação artesanal da cerâmica o problema da autenticidade levanta outro tipo de autenticidade, basta pensarmos na louça de Pinela, ou nas cantarinhas sem ou com laivos de artes decorativas. O Senhor Martins referiu as alfaces colhidas na horta da casa. Está bem. E as alfaces receberam estrume ou tiveram tratamento contra os parasitas?
No que tange ao turismo de natureza importava fazer-se um inventário rigoroso de todas as espécies animais e vegetais, importava classificar as infestantes comestíveis e as nocivas aos humanos numa amostra de pedagogia educativa dos visitantes interessados e não das hordas da máquina fotográfica em riste a disparar zumbidos imitativos de insectos que não identifico porque o senhor do Porto já inscreveu no programa de actividades a criação de rotas a eles relativas. A política da entidade de turismo relativa ao Nordeste tem-se pautado por muita farronca, muita parra e pouca uva, assim irá continuar porque o vice-rei do Norte (Rui Moreira) quer, manda e pode. A regionalização operada demonstra o óbvio: a cidade que possui um rio de ouro (Douro) e um Palácio de Cristal (da cerveja que apagou a marca Cristal), procura canibalizar as comunidades nordestinas, estas por seu turno coçam para dentro e afagam os egos (tenho memória) em guerras intestinas, sem sentido, a renderem juros ao vizir tripeiro.
O funcionário Sr. Martins conhece o Nordeste de raspão, se tivesse uma única ideia, desde que bem alicerçada nas raízes locais em vez de empregar o vocábulo de várias significâncias, preferia fazer/fazendo o caminho no sentido do célebre poeta sevilhano António Machado, escorado na real/realidade do algarvio Ramos Rosa, porém tanto o sentido como real implicam estudo a sério, ponderada reflexão, bom senso e sentido da medida. Cousas desconhecidas na Torre dos Clérigos. Cousas conhecidas pelos clérigos!

PS. Relativamente a indústrias da cultura a visita não suscitou temas? Era interessante saber-se o que pensavam os convidados.

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