A opinião de ...

Dois mais dois são quatro

Diz-nos a Bíblia, através dos seus evangelistas que Cristo nos exortou a interpretar adequadamente os sinais visíveis na natureza que nos rodeia (“Aprendei com a parábola da figueira: quando os seus ramos se renovarem e as suas folhas começarem a despontar, sabereis que o verão está próximo” – Mateus 24:32). Ora os sinais que vamos vendo, apesar das declarações tonitruantes, das promessas de investimento, sem precedentes e das declarações de fidelidade inquebrantável, o Serviço Nacional de Saúde vai atravessar tempos complexos de difíceis soluções para superar as dificuldades que se aproximam.
O SNS é uma bandeira levantada pela esquerda portuguesa, de forma justa pois a sua conceção é devida ao Partido Socialista e foi, desde então, incensado por todos os partidos marxistas. À direita, reconhecidos os inegáveis méritos e a nobre missão de acudir, de forma graciosa e competente a todos os portugueses carentes de cuidados médicos, independentemente da sua condição social, restou-lhe saltar para o comboio em andamento, contrapondo à solução única e universal uma solução mista, acrescentado à composição, em marcha, uma carruagem dedicada à medicina privada.
O exercício privado da medicina foi sempre combatido pelos de ideologia estatizante embora, paradoxalmente, o acesso, em condições privilegiadas, a esta mesma modalidade foi, desde início, uma das maiores e mais apreciadas benesses da ADSE, até à pouco tempo, exclusiva dos servidores do Estado.
Os dois partidos do poder têm alternado nas suas políticas para dar resposta adequada às necessidades crescentes do SNS. O PSD apostando nas parcerias publico-privadas, o PS aumentando o orçamento do Ministério da Saúde, nunca atingindo os valores reclamados à sua esquerda para controlar o deficit recorrendo ao conhecido esquema de cativações, introduzido pelo atual Governador do Banco de Portugal, quando mandava nas Finanças.
Se algumas auditorias vieram demonstrar a eficácia e racionalidade da gestão privada, a pandemia veio evidenciar a robustez e indispensabilidade do sistema público.
A bazuca, tudo indicava, iria injetar no SNS as vultuosas verbas reclamadas pelo PC, Bloco e seus pares, mas apesar da garantia de que não faltarão os meios nas secretarias da Avenida João Crisóstomo e do apoio ao reforço orçamental, em todo o espetro político... contudo é, nesta altura que surgem sinais que, tais como o reverdecer da figueira, indiciam a aproximação do verão.
Ainda se ouviam as promessas primo-ministeriais da abundância de recursos para tudo e mais não sei quê e já a ADSE, alargando o seu âmbito de associados, negociava e aceitava várias revindicações dos Hospitais Privados.
Na pretérita campanha eleitoral, em vez das clínicas e da abertura contínua e sem interrupções dos Centros de Saúde, a grande novidade nesta área foi a promessa de Seguros de Saúde (cuja valência principal assenta no acesso aos consultórios dos especialistas, sem passar pelas grandes filas do serviço universal e gratuito), para todos os munícipes.
Na estrutura de saúde começam a rebentar, por todos os lados, conflitos, reivindicações e demissões seletivas e em bloco.
Para terminar, fomos surpreendidos, recentemente, pelo anúncio de mais um Seguro de Saúde, promovido e sustentado por... uma operadora de telecomunicações. Será, portanto, um negócio com futuro...
É, mais uma vez, o sempiterno e omnipresente Mercado, a ditar as suas leis.

Edição
3855

Assinaturas MDB