A opinião de ...

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Há um ano, neste mesmo jornal, assumia a minha estranheza pelo erro de Rui Rio, ao levar o PSD a votar contra o Orçamento do Estado para 2021. Este ano voltou a insistir na mesma falha. Em circunstâncias idênticas, contudo com algumas características bem diversas que agravam a anterior falta de faro político e, sobretudo, de sentido de oportunidade e postura de estadista.
É verdade que António Costa tinha declarado, com solenidade que no dia em que o Governo dependesse do PSD, estaria acabado. Mas, tal como disse então, o que pode levar o líder da oposição a dar tamanha importância ao que diz o Primeiro-Ministro, sobre as relações interpartidárias? Que, independentemente, das juras primo-ministeriais e da credibilidade emprestada pela oposição, afinal mostrou-se desajustada e errada: o Governo acabou por depender, não do PSD, mas dos seus ex-aliados, o PCP e o BE.

Perante a evidente rutura à esquerda, a abstenção dos sociais-democratas, na votação do Orçamento para 2022, seria preciosíssima.
Em primeiro lugar, desacreditava António Costa porque se o PSD não tivesse votado contra, o XXII Governo manter-se-ia e não é crível que, por essa circunstância, se demitisse.
Evidenciava um Rui Rio estadista e não um líder refém de tendências internas. Este orçamento é, e nisso os socialistas têm razão, o mais importante e relevante dos últimos anos. Porque vem a seguir a uma crise gravíssima da qual é necessário recuperar, rapidamente, havendo, desta vez, recursos financeiros para tal. Tal deveria ser suficiente para justificar, não uma aprovação, mas, pelo menos uma abstenção. O líder do PSD poderia capitalizar qualquer um dos erros (porque vai haver vários) da aplicação dos fundos europeus, qualquer desvio (e serão muitos, certamente) das metas traçadas, alegando que o principal partido da oposição tinha feito a sua parte. Esta linha de pensamento e de atuação seria, aos olhos do eleitorado muito mais eficaz na definição da sua estatura política do que a liquidação dos debates quinzenais. Para além de fazer jus ao conhecidíssimo slogan de Sá Carneiro (“Primeiro o País, depois o Partido e só depois a circunstância pessoal”) distingui-lo-ia do seu opositor interno apostado num combate sem quartel ao socialismo que, sendo verdade que é bem visto nas fileiras partidárias não é tão popular por entre os eleitores. Mas, sobretudo, era uma machadada forte na debilitada Geringonça, ainda combalida dos maus-tratos das eleições autárquicas. Ninguém pode duvidar (e se houvesse alguma suspeita, a discussão em torno do documento orçamental, desfê-la categoricamente) que a rejeição à esquerda foi determinada por motivos estratégicos, convencidos que, estando a perder implantação eleitoral, entenderam ser esta a altura de tentar inverter a tendência, indo já para eleições. Ora se até os próprios reconhecem que o prolongar no tempo seria pior do que afrontar já as consequências das perdas que a atual rutura lhes vai trazer, como toda a gente já deduziu, o “pior” que lhe poderia ser feito seria, obviamente, prolongar-lhe o período e apostar em perdas maiores e desgaste mais acentuado.
É verdade que o PRR vai trazer benefícios ao partido do governo, mas também amargos de boca porque durante a última campanha as promessas foram tantas que nem dez vezes o montante esperado de Bruxelas haveria de ser suficiente para contemplar, a contento, as expectativas então criadas.
Mas, claro, não é novidade nenhuma que no PSD, abundando quem cite Sá Carneiro, há poucos, contudo, que cumpram o lema do fundador.

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