Igreja de São Tiago, Coelhoso. “Filho do Trovão”!
São Tiago Maior, Apóstolo peregrino semeador na Finisterra hispânica, mártir em Jerusalém e padroeiro dos guerreiros cristãos peninsulares durante a Reconquista (“Mata-mouros”), dá nome à paróquia e Igreja matriz de Coelhoso. Aldeia sede de freguesia, que agrega o local de Quinta de Montesinho, dista 25 km a Sudeste de Bragança. A ancestral povoação é da Idade do Ferro, como indica o Cabeço de Anta, o topónimo Castrilhão ou o “berrão”, escultura granítica a representar uma porca e exposta junto ao alçado direito da Igreja matriz. Os berrões podiam ter culto religioso relacionado com a morte, protetores de povoados, de terrenos agrícolas e sua produtividade. Nas Inquirições de 1258, a então vila aparece nomeada Vilar de Coeloso, terra abundante em coelhos e de bons recursos cinegéticos, gravados no brasão heráldico. Onde também constam duas picaretas, alusivas à riqueza mineira do subsolo, de onde se extraiu estanho, tungsténio e volfrâmio de minas entretanto desativadas.
Coelhoso pertenceu ao concelho de Izeda até 1855, foi curato da apresentação do reitor de São Gens de Parada e aqui o Mosteiro do Castro de Avelãs teve consideráveis bens patrimoniais. Entre 1911-1936, agregou a vizinha Paradinha. Tem como património religioso: a Igreja matriz; a Capela de Santo António; ainda a capelinha dedicada ao mesmo Santo, com a “Fonte do Milagre”, onde apareceu em 1617 a um pastor; neste local também consta a capelinha dedicada a Santa Bárbara; conta também com outra capela no alto de Minas da Ribeira com a mesma invocação à padroeira dos mineiros. Referência também para a capela de Santo André no lugar de Quinta de Montesinho.
A atual Igreja de São Tiago foi edificada de raiz no centro do povo, no último quartel do século XVIII, onde constava a Capela do Santíssimo Sacramento. Em verdade, as «Memórias Paroquiais de 1758» davam a anterior igreja como “muito antiga e incapaz”, identificando-lhe três altares na nave dedicados a Nossa Senhora dos Prazeres, do Rosário e Das Almas, todos com confraria. Em 21 de Novembro de 1785, o Bispo D. Bernardo Pinto Ribeiro Seixas autorizava a bênção da Igreja de São Tiago de Coelhoso.
Apresenta traça arquitetónica comum a muitas do concelho, de frontispício com frontão triangular a encimar portal de verga reta e óculo circular para entrada de luz para o coro-alto, truncado por campanário de dupla sineira. O interior é espaçoso e bem cuidado, com coro-alto, compartimento de batistério, púlpito e os três altares laterais na nave. O Das Almas, no lado do evangelho, mantém a consagração do antecedente, os outros estão dedicados a Nossa Senhora de Fátima e Sagrado Coração de Jesus: de eixo único, em talha policromada e dourada; este último é de estilo tardo-barroco, definido por colunas e arquivoltas salomónicas decoradas por pâmpanos, fénices e putti, com mesa paralelepipédica; os outros dois, alteados e com espaldar, são rocaille, com mesa tipo urna. No presbitério, o altar-mor, de três eixos, em talha policromada “marmoreada” e decoração a dourado, é típico rocaille. A mesa é tipo urna e o retábulo definido por quatro pilastras molduradas e duas colunas lisas, com capitel de aparência coríntia. Tem tribuna central de moldura recortada com o Orago São Tiago “peregrino” sobre trono, e costeira com óculo em resplendor e anjos alados. Os nichos laterais acolhem as imagens de Nossa Senhora dos Prazeres, que já teve altar dedicado, e de Santa Bárbara. O ático é fechado ao centro por cartela em vaso. O teto, em berço, está pintado com motivos Crísticos e Eucarísticos.
“São Tiago Maior, primeiro apóstolo a morrer pelo Amor em Cristo, dai-nos a fé necessária para sermos tão íntimos do Senhor como tu fostes. Amen”!