A opinião de ...

MEMÓRIA CURTA

 
É vox populi que “as pessoas têm memória curta”. O antídoto para este mal é lembrar, chamar a atenção, repetir, as vezes necessárias, aquilo que é importante. Há quem tenha falhas de memória e, reconhecendo-o, recorra a estratégias simples para evitar esquecer o que realmente importa, seja da vida pessoal seja da vida coletiva. Mas há também quem, intencionalmente, se esforce por esquecer (e fazer esquecer) o que não lhe agrada.
O que me proponho fazer – e apelo aos leitores que me acompanhem neste exercício, comparando o que foi dito com o que (não) foi feito – é ajudar os mais esquecidos a relembrarem as promessas e contradições do líder do PSD e atual primeiro-ministro. Recordar o que Pedro Passos Coelho, líder do PSD na oposição, prometeu e pedir aos leitores que passem em revista o que fez o mesmo Pedro Passos Coelho, como primeiro-ministro.
Eis o que ele afirmou em diferentes momentos.
Junho de 2010: “A política de privatizações em Portugal será criminosa nos próximos anos se visar apenas vender ativos ao desbarato para arranjar dinheiro.”
Agosto de 2010: «Acusava-nos o PS de querermos liberalizar os despedimentos… Que lata!».  
“Não contarão [comigo] para mais ataques à classe média, em nome dos problemas externos” (…) “Nós não olhamos para as classes de rendimentos a partir dos mil euros, dos mil e poucos euros, dizendo: 'aqui estão os ricos de Portugal, que paguem a crise!'”.
“Os impostos indiretos tratam todos pela mesma medida, tanto pobres como ricos, razão porque são, nesse aspeto, mais injustos. É essa, aliás, a razão por que eu nunca concordei em taxar cada vez mais os impostos indiretos, nomeadamente o IVA. Ele vale 20% para quem tem muito como para quem tem pouco”.
Outubro 2010: “Os impostos só devem aumentar com circunstâncias especiais e só por incompetência o governo pode pedir mais impostos porque não se tem mostrado diligente com o dinheiro dos outros.”
“Garanto que não financiaria a redução do défice recorrendo, sobretudo, aos salários dos funcionários públicos.”
Novembro de 2010: “Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado.”
Fevereiro de 2011: “O corte na despesa não pode ser apenas nos salários. O descontrolo da restante despesa pública não se pode repetir.”
Março de 2011: “Fica o compromisso expresso de que o PSD não afetará as pensões mais degradadas ou as reformas como previa o PEC.”
“Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas.”
“A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento.”
“A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos
Abril de 2011: “Apresentaremos um programa de emergência social para apoiar as famílias em risco de subsistência, com especial atenção a jovens e idosos.”
“Temos de ajudar, não só as pessoas que já estavam vulneráveis, mas também quem caiu em situação de pobreza e não sabe como procurar ajuda.”
“O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento.”
“Não podemos colocar a austeridade toda do lado das pessoas e nenhuma do lado do Estado. Foi isto que transmiti ao Governo [PS].”
“Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13.º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate.”
Maio de 2011: “Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos.”
“Prefiro ser criticado por alguma medida mais difícil que defendo do que ser acusado de ludibriar as pessoas.”
“A campanha do PS a dizer que o PSD quer tirar tudo a toda a gente é a coisa mais desonesta que eu tenho visto em política.”
“O aumento de impostos que já está previsto no documento que assinámos com a "troika" da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional já é mais do que suficiente. Não é preciso fazer mais aumento de impostos.”
“Não vamos nomear os amigos. Nomearemos com transparência aqueles que por mérito e competência merecerem ser nomeados.”
“Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português.”
Junho de 2011: “Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos.”
No dia 5 de Junho de 2011, houve eleições legislativas e, a 21 de Junho, tomou posse o atual governo.
Agora compare o leitor o que Pedro Passos Coelho disse com o que ele fez e tire as devidas conclusões quanto à sua credibilidade

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