A opinião de ...

No centro deve estar a pessoa

Doentes internados em refeitórios e casas de banho, por falta de vagas.
Uma grávida, em trabalho de parto, que tem de se dirigir, pelos próprios meios, a um segundo hospital, porque no primeiro já não havia vagas e são os próprios profissionais de saúde a sugerir a deslocação, sem providenciarem o transporte adequado.
Situações que não estranharíamos ver em notícias de um qualquer país do Terceiro Mundo. Mas que aconteceram em Portugal e foram notícia esta semana. Os casos foram revelados pela Entidade Reguladora da Saúde e revelam o estado comatoso a que chegou a prestação de cuidados à população.
Ainda por cima, estes casos não aconteceram num qualquer hospital “de província” [como gostam de dizer em Lisboa] mas, sim, às portas da capital.
A falta de dinheiro para serviços básicos de apoio à população parece ser uma sina desde o início das cativações que sustentaram a descida do défice para valores próximos do zero. Mas enquanto o défice financeiro descia, o défice de qualidade de serviços públicos disparava.
São poucos os serviços públicos que não têm tido queixas de falta de meios.
Enquanto isso, a saída da autoestrada 42, em Valongo, encheu-se de meios da Autoridade Tributária e da GNR que, durante toda a manhã da passada terça-feira, iam mandando parar os automobilistas, vasculhando rapidamente o cadastro associado às matrículas dos veículos e, com a ameaça de penhora, exigiam o pagamento de dívidas ao Fisco.
“Desproporcionalidade de meios”, disse a Secretaria de Estado dos Assuntos Fiscais para justificar o cancelamento da ação “assim que teve conhecimento da situação”, já depois da hora prevista para o seu final e após as reportagens das televisões, que falaram em ato “medieval”.
Nas últimas três semanas, foi a quarta ação do género que decorreu no distrito do Porto. Até agora, ainda ninguém descobriu quem deu a ordem. Terá sido para arranjar dinheiro ao Estado para investir na saúde dos portugueses?
Convém não esquecer as palavras do Papa Francisco, no dia 13 de maio de 2017, em Fátima, quando sublinhou que “mais do que objeto de caridade, os doentes são um tesouro precioso da Igreja”. Já em janeiro deste ano, o Papa lembrava, a propósito do Dia Internacional do Enfermo, que “o cuidado dos doentes precisa de profissionalismo e ternura, de gestos gratuitos, imediatos e simples, como uma carícia, com os quais fazemos o outro sentir que nos é querido”. Por cá, parece que estas palavras têm tido pouco eco.

O distrito de Bragança, que tradicionalmente veste laranja, pintou-se de rosa no passado domingo. Foi para as eleições europeias e por uma diferença de apenas 973 votos. Mas, desde logo, deixou perceber algumas coisas. Que Jorge Gomes deverá, mesmo, ser o cabeça de lista socialista nas Legislativas. O presidente da Federação do PS ganhou um alento numa altura em que alguns desconfiavam da longevidade política do deputado e ex-governador civil.

Mas estas eleições mostraram ainda o crescimento do Bloco de Esquerda no distrito. Os bloquistas tiveram quase o triplo da votação (de 1056 votos em 2014 passaram para 2614 no domingo). Resquícios da luta entre professores e Governo?

Certo é que a Direita perdeu terreno no distrito, mas poucochinho. É que se o PSD e o CDS, juntos em 2014, tinham conseguido 17349 votos nas anteriores eleições Europeias, agora, os dois juntos somaram 16540 votos, menos 809. Ainda não dava para bater o PS mas é o suficiente par mostrar que, às vezes, as percentagens não são o que os números parecem. Até porque o PS, que agora ganhou no distrito, perdeu 760 votos face a 2014, quando foi apenas a segunda força política mais votada.

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