A opinião de ...

Três notas breves

Do que ocorreu nestes últimos 15 dias retive três notas. Apresento-as de seguida.
Primeira, a dificuldade de mudança da doutrina da Igreja cristã Católica nas relações sociais de género. O mal-estar gerado pelo Evangelho no seu apelo à submissão da esposa ao marido foi comentado por uns, polemizado por outros, anatemizado por muitos mais. O problema, como acentuaram os membros da Conferência Episcopal Portuguesa, na sua nota, a propósito, deve ser contextualizado à cultura e sociedade do tempo de Jesus Cristo. Porém, é inadmissível que imensos sacerdotes não tenham feito essa contextualização e não tenham referido o anacronismo do apelo.
Que a mudança, na Igreja Cristã Católica, seja muito difícil, sabe o homem de bom senso. Há sociedades muito díspares, de culturas diferentes, de tradições diferentes e harmonizar todas essas diferenças para uma mudança sob uma direção única é muito difícil. E não é só o caso da submissão das esposas aos maridos. É também o relegar da mulher para um papel secundário na Igreja. Deste ponto de vista, o pontificado de Francisco I deixa um triste legado.
Segunda, a terceira união moral entre a Igreja Cristã Católica e o Estado. A propósito da inauguração da primeira Faculdade de Medicina privada, propriedade da entidade detentora do ensino concordatário (legitimado pela Concordata), ocorre-me perguntar qual é a natureza do Estado Português em relação à religião, se é laico ou confessional. É que ver o poder temporal do Estado e o poder espiritual da Igreja Católica tão entrelaçadinhos como se fossem verdadeiros noivos fez-me urticária. E ouvir o Primeiro-Ministro, laico, republicano e socialista, sugerir que a Igreja Cristã Católica está em melhores condições que o Estado para alcançar o verdadeiro saber fez-me evocar a verdadeira natureza do poder dos reis católicos.
Depois da primeira União Moral, entre Salazar e Cerejeira, que nunca perdoou impostos, e da segunda União Moral, entre Cavaco Silva e António Ribeiro, com perdão de vários impostos, segue-se agora um Primeiro-Ministro a querer inaugurar a terceira União Moral, metendo a Igreja no Estado e o Estado na Igreja como se de um Estado confessional se trate. É melhor dar mais atenção a este ensaio de concubinato de conveniência.
Terceira, foi o(a) senhor(a) quem pediu a privatização (CTT, GALP, EDP) e a descentralização (autarquias e CGD)? Tenha cuidado: tudo isso serve para dar lucro a poucos e prejuízo a quase todos. A natureza do poder não muda seja a administração centralizada ou descentralizada e privatizada. O que muda é que, na primeira, lucram muito poucos (1%) e perdem quase todos e nas segunda e terceira lucram mais 5% de pessoas mas o prejuízo das restantes 94% agrava-se ainda mais e com maior desigualdade, mesmo que aumente o progresso. Veja o que aconteceu com os recentes aumentos de preços e comissões. Vergonhoso! E o Estado, verdadeiro aliado dos poderosos, a assobiar para o lado. É melhor repensar o futuro.

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3851

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