A opinião de ...

Encontro: caminho hermenêutico do discipulad

Todo o discípulo tem um mestre, e todo o mestre tem o seu mestre. Neste ano dedicado ao discipulado missionário, necessitamos reafirmar a importância nevrálgica do único e fundante Encontro. Este encontro com o «Logos» – a Palavra – parte sempre de uma palavra humana, apesar de limitada e finita na sua essência, ela impulsiona à descoberta da única e definitiva Palavra, ou seja, a palavra encarnada, o próprio Jesus Cristo.
Ser discípulo de Jesus não nasce de uma revelação filosófico-matemático-metafísica. Antes, na finitude e na simplicidade da nossa vida, somos tocados por uma breve palavra, como aquela brisa suave que nos envolve, que se faz sentir na porosidade da existência, incapaz de amarrar, diminuir ou coarctar. É nesta suavidade única e terna que nos faz elevar e tocar o convite à felicidade plena e definitiva. Este convite está inscrito no coração de todos, e todos nós buscamos este mesmo fim.
A felicidade – ou, dito de outra maneira, a santidade – é o dom oferecido por Deus a todos os homens. Então o que precisamos de fazer para a “alcançar”? “Apenas” (digo-o entre aspas porque não é um pormenor, mas um ‘pormaior’) no encontro com a Palavra, com a pessoa de Jesus Cristo. É neste Encontro que se gera o discipulado ao modo e ao jeito de Jesus. Temos, por isso, de fazer este urgente e fundamental encontro para que a felicidade não seja utópica (do grego «ou» (não) + «tópos» (lugar), ou seja, sem lugar), mas eutópica (do grego «eu» (bem, feliz) + «topos» (lugar), ou seja, lugar bom/feliz). Como diz Miguel Unamuno, «quem não sente a ânsia de ser mais, não chegará a ser nada».
Não adianta nada cuidarmos da aparência se não cuidarmos do interior. Sem este encontro, nunca faremos a diferença, nunca seremos centelhas de esperança num mundo que ‘des-espera’. O Reino de Deus é um reino de consciência: ou é isso ou, então, não é nada. O Padre António Vieira brilhantemente alertou para o perigo da exterioridade: «muitos cuidam da reputação, mas não da consciência».
Só um discípulo pode fazer outro discípulo! O discípulo que se tornou discípulo faz da sua vida missão. E a missão não uma aportação da vida, um apêndice da mesma, ou uma espécie de “ATL religioso”. Corremos o risco de dizer que “apenas” demos e damos do nosso tempo à Igreja, à paroquia ou à comunidade. Damos esse tempo, mas depois, invariavelmente, voltamos ao paganismo da nossa vida, aos nossos desejos e projectos pessoais. Não pode ser! Ser discípulo missionário é consequência da nossa condição baptismal, de pessoas que conscientemente professam a Fé em Jesus. Tal como o pai e a mãe não são pais em parte-time, assim também o discípulo é-o sempre. Na última Formação Permanente promovida pela nossa amantíssima Diocese, o Padre Amaro Gonçalo belamente resume isto mesmo: «não existe o discípulo solteirão, descomprometido com a missão. Somo-lo sempre. Ou tudo ou não».
Este é o desafio final: sermos autênticos e credíveis discípulos, geradores daquele encontro que faz suscitar na vida de cada um o dom do mais puro amor, da mais pura felicidade e da santidade como estado definitivo de vida, e onde a humildade surge como pedra angular. Deixo, aqui, como mera sugestão, com o sempre eloquente testemunho de Santo Agostinho: «não penses mal do teu irmão. Sê tu com humildade o que queres que ele seja, e não pensarás que ele é o que tu não és».

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3721

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