Entrevista a Carlos Guerra

“Não quero ser um presidente da Federação que pensa apenas e só pela sua cabeça”

Publicado por António G. Rodrigues em Sex, 2016-03-18 18:29

Eleito presidente da Federação Distrital do PS há quase duas semanas, Carlos Guerra tem este fim de semana o congresso distrital. Ao Mensageiro, fala dos seus projetos e das eleições autárquicas.
 
Mensageiro de Bragança: Como surgiu a ideia de se candidatar?
Carlos Guerra:
Chegou uma altura na minha vida que achei que devia dar o meu contributo e surgiu esta situação de decorrer um período eleitoral. Havia algumas crispações no Partido Socialista decorrentes de alguns alinhamentos à volta da decisão sobre o Secretário Geral e das políticas que o PS seguia. Entendo que fazia bem a ponte entre as duas situações e, por isso, entendi que devia dar esse contributo. Já fazia parte do secretariado anterior e há um momento em que entendemos que podemos fazer um pouco mais. Mesmo do ponto de vista profissional tinha mais tempo disponível, estava mais tempo em Bragança do que tinha estado. Era altura de me submeter à decisão dos militantes.

MB.: Já há algum tempo que não havia um candidato único às eleições da Federação. Como é que foi possível criar este consenso? Houve negociações com outros eventuais candidatos?
CG.:
Não, não foi necessário. Quando entendi candidatar-me entendi que o fazia de acordo com um conjunto de princípios e valores muito ligados ao PS. Como sabemos, é um partido com uma grande diversidade de opiniões e de interpretação política. Entendi que, neste momento, me sentia completamente à vontade e disponível. Não era necessário nenhuma negociação mas admito que o facto de termos saído de um momento de alguma crispação interna, personalizada por duas linhas mais ou menos divergentes...

MB.: Personalizadas por Mota Andrade e  outra por Jorge Gomes?
CG.:
... Sim. Acho que os militantes – e 60 por cento deles foram votar – querem que haja um momento de unidade, acabar com esta crispação e, de facto, passarmos para aquilo que é a nossa obrigação e a nossa tarefa, ou seja, construir um projeto para a região e submetê-lo à aprovação dos transmontanos.

MB.: Quais as linhas mestras deste seu projeto?
CG.:
Há umas questões que têm de ser feitas dentro do partido, nomeadamente a consolidação das suas estruturas.  Temos vivido uma certa falta de dinamismo, eventualmente, até, resultado da tal diferenciação que surgia, excessivamente marcada.
É necessário reativar alguns militantes que, uns por desilusão outros porque simplesmente desmotivados, deixaram de participar na vida partidária. E atrair para a militância muitos dos nossos simpatizantes, que tivemos essa prova quando tivemos as eleições primárias.
Um outro aspeto muito importante tem a ver com a renovação, que passa por uma maior integração e responsabilização da Juventude Socialista. Temos tido ótimos exemplos disso, como a constituição recente de um núcleo de Vila Flor, com um grupo bastante grande de jovens universitários que, apesar de estarem a estudar fora, fazem questão de exercer a militância na sua terra. E gente de muita qualidade, dentro dos parâmetros que vi em Bragança e em todas as outras concelhias. Na atividade partidária, temos de ter a consciência que quando olhamos para trás há um fio condutor e a minha geração tem de sentir, quando se retirar, que há uma continuidade e cada vez melhor. É essa a nossa função.
 No que tem a ver com a atividade política, temos de construir um projeto para o nosso distrito. Vai ter a sua expressão na realização da convenção anual. À semelhança do que já fizemos no ano passado, todos os anos vamos realizar uma convenção anual onde os militantes e simpatizantes do PS são chamados a dar o seu contributo para aquilo que pretendemos que se faça no nosso distrito. Ou seja, não quero ser um presidente da Federação que só pensa pela sua cabeça. Quero ser um porta-voz da vontade dos militantes e dos simpatizantes. A construção desse projeto vai ser o denominador comum daquilo que serão os projetos com que nos vamos apresentar às eleições autárquicas, obviamente que respeitando as especificidades de cada concelho. Mas temos de ter um guião que seja, para os transmontanos, a proposta do PS. É com essa mensagem que pretendemos ganhar a confiança dos socialistas, porque estamos convictos que esse projeto poderá ser melhor do que o do PS.
E, depois, preparar os nossos candidatos para as autárquicas. Estamos a um ano e meio e temos a ambição de ter bom resultado. Para isso, os nossos candidatos devem ser escolhidos pelos seus pares e devem ser preparados tecnicamente, politicamente, para serem as melhores propostas que se apresentam ao eleitor.
 
“Não serei candidato nem à Câmara nem a nada”
 
MB.: Há quem diga que, nas próximas eleições, qualquer candidato que avance contra o atual presidente será para “queimar” pois dificilmente um presidente eleito perde após um primeiro mandato. Partilha dessa opinião?
CG.:
Não.

MB.: A escolha do candidato poderá passar por uma negociação com Humberto Rocha?
CG.:
Ainda não tive oportunidade de me debruçar sobre esse assunto mas entendo que o Dr. Humberto Rocha é militante do PS e deu muito ao partido. Na minha vida, considero sempre que, num conflito, não há nenhum dos lados que tenha cem por cento de razão. Há que fazer uma análise muito clara do que se passou e resolver este assunto num formato que respeite os estatutos mas também respeite as pessoas que, num determinado momento, sentiram que o PS não estava a considera-los a dimensão em que mereciam. É um assunto que irá merecer a minha atenção e do secretariado que irá ser constituído no congresso mas ainda não estou na posse dos dados todos e, portanto, não queria estar a alongar-me. Mas reconheço que o Dr. Humberto Rocha é uma pessoa que muito deu ao partido e estou convicto que partilha das convicções que se enquadram no PS.

MB.: Portanto, não o escandalizava a ideia de que Humberto Rocha pudesse ser o candidato do PS em Bragança?...
CG.:
Nunca iria dizer isso porque não tenho conhecimento total do que levou a esta cisão. Há aspetos de ordem jurídica e não os conheço, pelo que não me quero debruçar sobre isso. Mas reconheço que o Dr. Humberto Rocha e algumas das pessoas que estiveram com ele deram muito ao Partido Socialista e naturalmente este deve ser um assunto tratado com todo o cuidado que nos merecem pessoas que tanto deram ao partido…
 
(Entrevista completa disponível pata assinantes ou na edição em papel)

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