A opinião de ...

Oásis bragançanos3468

 
De todos os lados lamentos ante a situação que vivemos. Quem os não contestará? Só os cegos que não querem ver, os de ouvidos cerosos que não querem ouvir, os tontos, ainda os beneficiados da desdita alheia. A melhor forma de suportar o clamor é refugiar-nos no oásis existentes nas terras onde vivemos. Nesta crónica lembro três situados no centro de Bragança. Entra-se na livraria Rosa de Ouro, à nossa direita um rótulo salienta obras relativas a Trás-os-Montes. O proprietário daquela casa de cultura fala, discorre, enuncia entusiasmado temas das obras em causa, as qualidades dos seus autores. Ele, também faz parte da tribo dos Fernandes, caso prove descender de sefarditas obtém o passaporte de cidadão espanhol conforme lei aprovada há dias. O meu antigo vizinho apenas lamenta a fraqueza do negócio, no mais evidencia orgulho e grande respeito pela cidade. A nossa cidade. Um oásis aquele espaço. Apesar de escassez de tempo vou ao Centro de Arte Contemporânea, passo e repasso ante as esculturas, desenhos e vídeo de Bernardí Roig, sento-me, furo a agenda fico a reflectir sobre o visto, perscrutado e ouvido. Saio do oásis a pensar nos romances: Pavilhão de Cancerosos e Montanha Mágica. Bem sei, a cegueira da moda impele-os para a obscuridade, só que o concentracionário na brancura que cega é nessas obras impante. Sigo em frente, entro na Galeria História & Arte, Emília e João Ferreira dão-me conta das suas aventuras culturais em prol da formação do gosto – cinema, escultura, pintura, património imaterial –, das desventuras derivadas das dificuldades inerentes, porque trabalham sem rede de sustentação, de qualquer modo entusiasmados, exigentes e teimosos. O oásis do Centro de Arte possui estrutura o que saúdo, os outros dois vivem aflitos, em situação semelhante estarão mais. Talvez seja possível aliviarem a canga das dificuldades caso os detentores de meios se lembrem deles, incluindo-os nos seus roteiros, realizando actos geradores de públicos residentes e forasteiros, integrando-os na programação de Instituições instaladas na velha urbe. Os Oásis visitados obrigam a fundada reflexão, pode parecer caricato, no entanto, a prática ensina-me que a trave-mestra da política cultural terá de ser a gastronomia local. Para comer gregos e troianos percorrem centenas de quilómetros, só depois de saciados é que prestam atenção aos comeres do espírito. Existem ainda os espartanos, são em número reduzido, mas também gostam de boas pitanças.
 

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