A opinião de ...

Tristes dias

As nuvens negras teimam em permanecerem no nosso horizonte mais imediato, alguns especialistas na previsão do tempo afiançam só ser possível o aparecimento de cirros daqui a sessenta anos. O Presidente da República baixa a previsão para vinte a trinta anos, o que aos entrados no Outono ou Inverno da vida representa negros e tristes dias até à sua passagem para o mundo dos mortos. As comemorações do 25 de Abril acentuaram o desvão entre quem perdeu a esperança perdendo todos os dias os últimos resíduos dela, e os vendedores de ilusões capazes enganando-se a eles próprios porque não somos senhores do nosso destino. Se a nível espiritual a fé atenua o sofrimento e alarga o estoicismo da resignação, na esfera do material o não podermos traçar o caminho só porque os desvarios cometidos por quem beneficiou do voto livre da maioria alarga a angústia de, afinal, o fatum ter sido determinado em grande parte pela nossa inépcia ou vistas curtas no momento da escolha. Estará aí a razão de bem vistas as coisas termos tido o bom senso de protestar pacificamente, ressalvando casos esporádicos de vandalismo perpetrado pelos profissionais do desacato. No entanto, o visto, lido e perscrutado inquieta-me de forma vincada, aos velhos e pensionistas vão juntar-se novas levas de desempregados vindos do funcionalismo, além de dia a dia aumentar o número de jovens sem possibilidades de obterem emprego. Emigrar só os dois opostos o vão conseguindo. Os mais qualificados e os menos. A Europa comunitária está sufocada e sofre o assédio dos desvalidos de África, restam alguns nichos como o da enfermagem que não tardará muito ficará repleto. E depois? Antes do depois temo no referente à situação por cá, mais de cem mil crianças a passar fome, mais de dois milhões de portugueses no limiar da pobreza constituem uma realidade explosiva. Sendo evidente causa-me estupefacção o manter-se uma política claramente orientada para a pauperização da nossa sociedade ficando a ideia de existir uma pulsão de perversidade por parte de diversos decisores políticos já desenganados sobre o seu futuro após as legislativas. Pode-se pensar que tomo a nuvem por Juno, não tomo, a reflexão acerca de muitas atitudes dos fautores do mando levam-me a acreditar no eles sentirem alegria quando perpetram maldades a torto e a direito. O resultado das eleições europeias pode ser um bom indicador do acerto ou não das minhas agrestes conclusões. O ditado diz: tudo o que é demais é moléstia.
 

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3472

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