A opinião de ...

A anormalidade do novo normal

Durante um ano e 11 meses, o mundo como o conhecemos ficou virado de pernas para o ar.
A chegada ao nosso vocabulário diário de palavras como coronavírus ou covid-19 passou a dominar a atualidade e os nossos movimentos, que chegaram mesmo a ser amplamente limitados por dois confinamentos obrigatórios.
Foi preciso encontrar novas formas de fazer o trabalho antigo e novos trabalhos para necessidades antigas.
Durante um ano e 11 meses (e uns dias), o nosso dia a dia passou a ser vivido em função das medidas de proteção decretadas para atenuar os efeitos de contágio da covid-19.
Anteciparam-se prazos de investigação, aprovação e fabrico de vacinas, de forma a mitigar uma pandemia global, que entorpeceu o mundo.
Mas eis que, a 24 de fevereiro, Vladimir Putin deu início à invasão da Ucrânia e a atenção do mundo virou agulhas para uma nova catástrofe e, como que por um passe de magia, o 'bicharoco' desapareceu de circulação.
Mas apenas de forma aparente pois, pelo que se vai vendo a espaços nos últimos dias, as notícias da morte do 'bicho', tal como as de Mark Twain, foram manifestamente exageradas.
Ao ponto de, agora, já sem máscaras, se começar a falar de uma sexta vaga da pandemia.
As linhas da Saúde 24 parecem entupidas, com muitos relatos de pacientes que esperam horas e não conseguem ser atendidos.
Sem o seguimento de contactos de risco por parte das autoridades de saúde, sem os cidadãos conseguirem ter acesso à Saúde 24, com os testes a serem novamente pagos, muitos casos acabam por nem ser comunicados.
A subida do número de internamentos, de que se dá conta já aqui ao lado, é um sinal que devia preocupar de que, apesar da vacinação (de que também deixou de haver dados), apesar de os efeitos do vírus nesta fase parecerem bastante diminuídos face ao que acontecia há um e há dois anos, o grande número de casos vai provocar maior necessidade de recurso aos hospitais.
Por isso, devemos olhar para o vírus com desconfiança, a mesma que nos ajuda a manter-nos atentos e vigilantes, de forma a que a anormalidade do novo normal fique, definitivamente, para trás das costas e não passe de uma memória, dolorosa, mas uma memória.

A região já tinha o bom exemplo da escola Esproarte, em Mirandela. Agora, o Conservatório de Música e Dança de Bragança começa a dar mostras de que, para cá do Marão, a música não é um fenómeno estranho. Apesar das distâncias, podemos ser tão bons ou melhor do que os melhores. E isso devia ser um exemplo para a vida.

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