A opinião de ...

Chaves de leitura para o voto nas autárquicas

No dia próximo dia 26, os portugueses vão novamente a votos para eleger os autarcas da sua freguesia e do seu município (eleições autárquicas).
Nestas eleições, os portugueses têm o direito de poder furar a partidocracia (domínio dos partidos) através de candidaturas independentes.
Entre candidatos por partidos e candidatos independentes destes, mais de 200.000 cidadãos dão o seu contributo em listas para a agitação que se vive ao longo do mês anterior à data das eleições arrastando com eles outros 200.000 como apoiantes. É quase 4% da população portuguesa a fruir da liberdade oferecida pela democracia liberal, a lutar pelo acesso ao poder e a querer afirmar o seu projeto cívico, económico, social e político.
Para os cidadãos não envolvidos nestes quase 4% e para os não alinhados em ideologias políticas, a escolha da próxima «Corte Autárquica» não é fácil. Calcula-se que 50% dos cidadãos com possibilidade de voto não tenham, a 30 dias das eleições, ideia de em quem votar. Por isso, o «pescado» é abundante para lançar as redes da campanha eleitoral.
Destes quase cinco milhões de cidadãos, três milhões costumam ficar em casa (abstêm-se de votar), um milhão vota por decisão de última hora, em cima da urna, e outro milhão vota por decisão muito ponderada e baseada em critérios.
Em Portugal, há poucos estudos sobre os fundamentos e orientações das preferências dos eleitores. Se os houvesse, seria mais fácil a «pesca» e mais difícil e sofisticada a construção social das imagens dos candidatos.
Nos finais dos anos 90, Jorge Vala e Benedita Monteiro coordenaram um estudo sobre as atitudes sociais e políticas dos portugueses. Entre os fundamentos da decisão de em quem votar estão razões ideológicas, políticas, morais, éticas, económicas, estratégicas, estético-afetivas e de liderança.
Por ideologia, votarão apenas 20% dos cidadãos, vinculados a partidos políticos.
Por razões políticas racionais, com base na oferta de ideias e de projetos pelos candidatos, votarão 25% dos eleitores, semi-convencidos de que ambos são para pôr em prática.
As razões morais e éticas, apelando à idoneidade do caráter e à verticalidade cívica dos candidatos ocuparão 15% das decisões do voto.
O interesse pessoal, económico e estratégico envolvido na eleição dos amigos mobilizará 5% do eleitorado.
As razões estético-afetivas, concretizadas na imagem física, na apresentação, na razoabilidade das ideias, no tom de voz aconchegante, na clareza da voz e na empatia gerada pelos candidatos mobilizarão 20% dos fundamentos das decisões dos eleitores.
Finalmente, a coerência das ideias, a segurança transmitida pelos candidatos e as suas qualidades de liderança valerão 15% dos votos.
Nos casos de recandidatura de uma lista no poder, estaremos perante uma eleição ou um plebiscito?
No caso de uma eleição, as listas candidatas são julgadas como concorrentes iguais.
Tratando-se de um plebiscito, confirma-se ou revoga-se o mandato dos executivos no poder. A vitória de uma lista alternativa é, antes de mais, a derrota da lista no poder e a vitória da lista no poder é a validação da sua governação (Karl Popper).

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