A opinião de ...

Sínodo 2021-2023: uma excelente oportunidade

Os crentes solicitaram, o Papa Francisco anuiu e os conclaves cardinalício e bispal concordaram em que a Igreja Cristã Católica, dita também de Apostólica e Romana, viva em Sínodo, de 10 de Outubro de 2021 a Outubro de 2023.
Sínodo significa encontro, caminhar em conjunto, reflexão, participação e decisão. O Papa Francisco abriu-o no passado dia 10. As dioceses iniciaram-no a 17. As conclusões serão enviadas para Roma até final de Março de 2022 para uma fase de concertação continental. De aí, seguirão, até final do ano, de novo para Roma para harmonização para todo o mundo católico.
O Sínodo constitui uma excelente oportunidade de discussão dos problemas da Igreja Católica (doravante designada por Igreja), dos atuais e dos passados. Não pode haver temas-tabú. É necessário a Igreja modernizar-se e adaptar-se ao mundo e sociedades actuais. É necessário também a Igreja aceitar perder privilégios patrimoniais e financeiros e tornar-se igual a qualquer associação de interesse público.
Os ataques à Igreja não vêm só da Ciência e da Filosofia, com paradigmas de compreensão do mundo opostos aos da Religião mas com aspetos que podem ajudar muito esta. Vêm também das incongruências entre a doutrina e as práticas, tanto da Igreja como dos seus membros.
A Igreja, enquanto instituição humana, nunca será perfeita mas tem de ser muito mais perfeita do que é e tem de controlar muito mais os seus membros e as suas práticas.
Muita coisa deve ser revista. Até muitos elementos da doutrina e dos dogmas. Num mundo em que a ciência demonstrou que não há certezas absolutas, tudo deve ser revisível menos a ideia de Deus e da Ressurreição. Os textos epistolares e evangélicos têm de ser adaptados às circunstâncias actuais.
Mas não só. Há questões emergentes nos últimos 50 anos que estão por resolver. Entre elas, a relação sexual com preservativo e o planeamento da procriação face às disparidades demográficas do planeta e excesso de população global; a possibilidade de casamento dos padres e religiosas (não que o casamento acabe com a pedofilia mas que, certamente, a diminuirá); a possibilidade das mulheres terem estatuto e funções iguais às dos homens; o perdão dos impostos à Igreja, aos seus membros e a outras pessoas coletivas de utilidade pública; e, finalmente, a abolição do privilégio de os membros do clero não serem, em várias matérias, submetidos à lei civil mas tão só ao Direito Canónico.

Os membros da Igreja não são mais pedófilos do que os outros membros da sociedade mas não podem gozar de um estatuto hipócrita e cobarde de semi-santos que os proteja do julgamento civil.
São demasiados os problemas e tensões que colocaram a Igreja sob suspeita e ataque. Suspeita que também advém de más concordatas entre o Estado e a Igreja. Estados dentro do Estado produzem distorções graves.

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