A opinião de ...

ABYSSUS ABYSSUM

Abyssus Abyssum, e o Sultão foram, desde sempre, os meus contos favorito dos Meus Amores de Trindade Coelho. Sempre me fascinou a atração que a presença do precipício exerce sobre quem dele se aproxima ou caminha à sua beira. Olhando para a política partidária portuguesa sentimo-nos, como o escritor mogadourense a olhar, sem nada poder fazer, o António e o Manuel a meterem-se no pequeno barco e a largarem, rio abaixo, em viagem irreversível em direção ao abismo.
As sondagens de opinião mostram claramente que os partidos tradicionais estão a perder crédito, a perder apoiantes, a perder o poder que sempre tiveram. Estreita-se-lhes o caminho e o carreiro estende-se por pedregosa superfície, escorregadia e sobranceira a precipício fatal se houver passo descuidado. É, contudo, visível a apetência que os protagonistas demonstram pela passada fora da zona natural de segurança. O PS acha, desde há muito, que o facto de a perda eleitoral da coligação não engrossar, como era hábito, as suas fileiras se devia única e exclusivamente à inabilidade do seu líder de então. Não aprendeu nada com as eleições e projeções dos paÍses euro-mediterrânicos e levou a cabo um golpe de estado que, obviamente, não está a dar em nada e disso haverá notícia em crónica futura. Entretanto continua a insistir nos mesmos erros convencido que bastará explorar os erros alheios para que os eleitores lhe caiam no colo.
No PSD a situação é dramática. A vertigem é constante e é com visível contragosto que controlam a irresistível tentação de quererem capitalizar a situção do ex-primeiro ministro, convencidos que o processo em curso lhes é favorável e a situação do antigo dirigente socialista será um trunfo firme a explorar na campanha ou, como a evidência demonstra, já na pré-campanha. Erro gravíssimo!
Incompreensível quando resulta, inclusivé, de análise correta e que, como tal, deveria empurrar a atuação dos protagonistas em direção radicalmente oposta. Veja-se o caso das justificações do primeiro-ministro sobre o célebre caso da falta de pagamento à Segurança Social. Veio finalmente o dirigente laranja assumir-se como cidadão “normal” igualando-se a tantos portugueses em luta permanente com a memória e a falta de recursos. Não será essa a imagem que quiz fazer passar como líder governamental, mas isso é outra conta. O que interessa ao caso  é que quem o aconselha caracterizou bem o cidadão nacional com quem veio a identificar-se. Mas não resistiu e trouxe para a discussão o caso José Sócrates. Esqueceu que vivemos num país maioritariamente profundamente católico que, mesmo quando é pouco praticante, enche os altares de mártires que venera acima de todos os outros santos.
Contrariamente ao que muitos pensam (é assustador o número de dirigentes e comentadores laranjas que estão convencidos da maior valia que o caso terá para as suas cores) existe uma enormíssima probabilidade de que o desfecho seja muitíssimo prejudicial para os lados da São Caetano à Lapa. Não há garantia nenhuma. Pelo contrário, apenas dois cenários trarão algum benefício para o PSD: 1 -a absolvição do antigo dirigente socialista, retirando-lhe capital de queixa; 2- a sua condenação com a apresentação de provas demolidoras e inequívocas de culpa. Em qualquer outra situação, por muito fortes que sejam as evidências os indícios ou a falta de justificações, condená-lo será fazer dele um mártir.
A penalização cairá, inapelavelmente sobre os martirizadores!

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3515

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