Caro Nuno...
Na Roma antiga, no momento da ascensão, um pregoeiro corria as ruelas das povoações, badalando um chocalho, anunciando que alguém “tinha vivido”. Acrescento, isso acontece só cá, na esfera terrena. Mas este Nuno, o nosso, viveu e pulsará para sempre no coração de todos, nos dos amigos e da Família.
Rebobinando a memória, prodígio humano, regresso a Barros Lima, lá no cimo do Bonfim, no topo do Monte Godim, escuto e ouço os ventos que transportam nossas vozes, as que viviam e passavam pelo nostálgico casarão, um dos lares de uma das maiores Famílias do Norte de Portugal.
Já por aqui brincavam Tio e Sobrinho, o mais novo dos tios e o mais velho dos sobrinhos, prova da continuidade cósmica, da semente que ruma ao futuro, que engrossa com as boas e novas variantes que apenas fortalecem a sementeira com origem e epicentro em Margaride, Felgueiras.
Os sussurros desses tempos, Barros Lima, mostram o Carlos e o Nuno, crianças, cantando para todos, no patamar das escadas que à sala da cave levavam, a soldo do Tio Beto, a todos insuflando união, a massa que nos une e amassa, de que todos nos orgulhamos.
O tempo, os cresceres, as escolhas, os rumos, os cruzamentos, os nasceres, as quedas e levantares, as lonjuras e os pertos, tudo nos separou com a ânsia dos encontros, dos indagares dos outros, das preocupações de uns, que eram e são pertença de todos.
Vila Marim, oásis dos Montenegros, grude onde todos nos fundimos com a bênção da Dores e Montenegro, foi vulcão de emoções, de trocas afetivas que perdurarão para sempre na alma não só de todos os que lá passaram mas também por todos os que se vão seguindo e nos alargam como Família.
E é este Nuno, menino e moço que aqui cresceu e se misturou com estas terras, que se fez gente na fusão com as aragens, com as poeiras, com os aromas, com os vinhedos, com as cores das pedras, com os encontros procurados a que aqui assistiu, é deste Nuno que vos quero falar.
Já como médico por aqui passou e exerceu, deu-se a conhecer como pessoa, como ser, de dar sem troca, bastava-lhe a presença dos que àquele sítio pertenciam, ao seu querido mundo infantil, a Vila Marim que sempre amou, a esse mundo que trazia colado à pele e que com a sublime e contagiante cumplicidade da Ana, sua alma gémea, souberam transmitir à prole o revigorante poder daquela aldeia.
Mas é no Porto, através do Hospital e Faculdade de Medicina do São João que o nosso Nuno Montenegro transpõe fronteiras e ganha o respeito dos pares, pelo saber e contributo para a Ciência no campo da Obstetrícia.
Com epicentro nos 15 Mesquita e Mota, este clã, com ADN entrosado com os, Mendonça Montenegro, Borges de Freitas, Coutinho de Bragança, Guedes de Melo, Silva Carvalho, Silva Feijóo, Mendes Alves Correia, Sousa Possacos, N. Afonso, Silva Pereira e mais 30 na segunda e terceira geração, para todos nós só conta o apoio e desprendida entrega e presença nas horas da solicitação, na retidão, no conforto das palavras e fortificantes conselhos e na iluminura de sua jovialidade contagiante. É bom saber que nos vamos encontrar por aí, Caro Nuno…