A opinião de ...

Sobre o Setor Solidário

Muitos dos graves problemas sociais que vivemos precisam de soluções locais, de proximidade, de um olhar diferente, muitas vezes, de olhos nos olhos. Por isso, a atuação em termos de ação social tem de ir ao encontro das situações e dos problemas e não esperar que eles degenerem em fenómenos até chegarem a ser incontroláveis.
 
A possibilidade de se poder inovar e conseguir obter soluções diferenciadas e adaptáveis às características dos reais problemas, que sabemos serem muito diferentes, de caso para caso e de região para região, é, nas atuais circunstâncias de verdadeira emergência nacional, a forma mais correta de desenvolver componentes muito importantes das políticas sociais.
 
As dificuldades são muitas e estou cada vez mais convencido que o que as IPSS e as Misericórdias têm vivido nos últimos dois anos e meio não tem sido um período excecional, que vai terminar. É com este ambiente que há que contar como o normal para o próximo futuro. É mais um caso em que se pode afirmar que o provisório tende a ficar definitivo.
 
Estado exangue, economia doente, evolução demográfica desfavorável, desemprego e pobreza a crescer, desigualdades de rendimentos a aumentar, uma União Europeia em que os egoísmos nacionais e os populismos ganham terreno face à solidariedade é, em traços gerais, o cenário com que temos convivido no passado recente o qual não se pode esperar que venha a ser alterado de forma muito significativa num futuro próximo.
 
Perante este quadro, os responsáveis do Sector Solidário têm de estar preparados para atuar em ambientes em que os níveis de confiança tenderão a ser baixos. E é sabido que sem confiança é muito difícil criar mecanismos que fomentem a auto estima e a generalização de uma vontade capaz de ultrapassar os difíceis obstáculos com que estamos deparados.
 
Este combate não é assim fácil de travar. É minha convicção que para podermos alimentar a esperança de o vencer há uma condição prévia que, se não for preenchida, tudo se torna muito mais difícil. Essa condição prévia tem a ver com a necessidade de organizar de forma inteligente e eficaz parcerias através das quais se possa partilhar responsabilidades entre o Estado e o Sector Solidário.
 
Não se pode tolerar é que a cooperação entre o Estado e o Sector Solidário seja encarada como uma oportunidade que se dá aos privados, ou como um exercício de magnanimidade do Estado que faz o favor de autorizar outros a intervir, ou ainda como uma solução que vem resolver a escassez de meios financeiros à disposição do Estado. Estas são visões redutoras e erradas e, por isso, devem ser combatidas.
 
Com um clima de cooperação assente na confiança recíproca entre o Estado e o Sector Solidário na busca de um interesse que é comum, poder-se-á economizar muito em termos de recursos, sejam eles físicos, financeiros, tecnológicos ou humanos e tirar partido da experiência acumulada de quem conhece o terreno em detalhe.
 
O Sector Solidário é, no momento que o País vive, de extrema importância e o papel que desempenha tem de ser visto como um verdadeiro investimento na criação de redes de confiança solidárias, o que muito pode contribuir, não só para diminuir a dor dos que mais sofrem, mas também para alimentar a esperança a todos nós. Por isso, a importância do Sector Solidário pode ser mais decisiva para o País do que a que resulta da sua ação nos temas relacionados com a ação social.

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