Nordeste Transmontano

Agrupamentos do distrito praticamente sem aulas devido à greve dos professores

Publicado por Glória Lopes/AGR/FP/FP em Sex, 2023-01-20 12:38

A generalidade das escolas do distrito de Bragança estão esta sexta-feira sem atividades letivas devido à greve dos professores, cuja adesão rondará os 90 por cento, de acordo com a plataforma sindical.

Em Macedo de Cavaleiros, para além de professores, também os funcionários aderiram à greve, com as escolas praticamente todas encerradas. "Temos apenas um jardim de infância a trabalhar", explicou ao Mensageiro o diretor, Paulo Dias. "Nunca vi uma mobilização assim", frisou.

No Agrupamento Emídio Garcia, em Bragança, também o diretor Carlos Fernandes vê uma adesão "como há muito não se via".

Segundo Carlos Silvestre, porta-voz da Plataforma Sindical, estima-se uma adesão à greve dos professores “a rondar entre os 90 e os 95%”.

Carlos Silvestre falava durante um protesto, na Praça da Sé, em Bragança, que reuniu centenas de profissionais do ensino de vários concelhos do distrito de Bragança.

“Temos escolas sem aulas, como Macedo de Cavaleiros, Vinhais, Vimioso. Pode haver alguma atividade letiva, mas é um educador ou dois. É residual e está relacionada com a avaliação dos docentes. Alguns não podem estar em greve e nesta manifestação porque estão a ser observados para progredir na carreira”, descreveu Carlos Silvestre.
Na escola de Alfândega da Fé o estabelecimento de ensino vai estar sem aulas por causa da greve dos professores e dos funcionários da cantina.  

Segundo as conta da Plataforma Sindical em Carrazeda de Ansiães a adesão ronda os 90% e em Vila Flor anda pelos 70%, Macedo de Cavaleiros e Vinhais estão a 100%, Miranda do Douro a 99%, Mogadouro está a 90%, Bragança anda pelos 95%.

Os professores prometem continuar a luta pelos seus direitos. “São problemas que se arrastam há pelo menos 20 anos e as coisas não mudam. Mudam os governos e as políticas e fica tudo igual”, afirmou Carlos Silvestre daquela Plataforma Sindical, que junta vários sindicatos, desde o SPN, o SPZN o SPLEU e o Stop.

Os professores de Bragança enfrentam os mesmos problemas que os demais profissionais a nível nacional, como o tempo de serviço que não é contado, as carreiras que não reconhecidas, a contratação que pode passar para os municípios.

“Os concursos dos professores são a coisa mais transparente que sempre houve e queremos que assim continue”, explicou Carlos Silvestre, enumerando ainda as questões da mobilidade por doença. “Se um médico diz que um professor está doente quem é o Ministério da Educação para dizer que não. É preciso reduzir o número de alunos por turma”, vincou.

Em Bragança os professores têm outros problemas mais particulares como a mobilidade por doença. “As pessoas não têm as mesmas condições que tem em Lisboa e no Porto, não é a mesma coisa estar num sítio onde há hospitais, centros de saúde e médicos, e nós estamos afastados. Às vezes temos 30 alunos numa turma. Se há tantos professores onde é que eles estão”, explicou o sindicalista.

Ainda no distrito de Bragança estes profissionais, Teresa Pereira, do SPN, indica um problema prende-se com as mudanças que pairam em que passará a existir a  possibilidade de os professores contratados e os do Quadro de Zona Pedagógica, que agruparia Bragança, Vinhais e Macedo de Cavaleiros,  e os do quadro de agrupamento “se deslocarem por várias escolas dessa área pedagógica, assim como os quadros de agrupamento que tenham insuficiência de componente letiva terão ser distribuídos conforme as necessidades por essa zona, desde que tenham alguma insuficiência letiva, sem qualquer ajuda de custo”.

Ao que o Mensageiro apurou, em Mogadouro há uma paralisação a 100% no ensino pré-escolar e primeiro ciclo do ensino básico e uma paralisação pontual nos outros graus de ensino até ao 12º ano, com alguns professores a faltar.

 No agrupamento de escolas de Miranda do Douro há o registo de uma grande adesão com 97% dos professores em greve.

Em Vimioso, todos os professores com componente letiva à sexta-feira estão em greve. No pré-escolar e primeiro ciclo a adesão é de 100%. À paralisação juntaram-se os e as   assistentes operacionais do pré-escolar.

 Em Torre de Moncorvo, o agrupamento está a funcionar parcialmente. Não há qualquer estabelecimento de ensino encerrado, sendo que esta paralisação afeta mais o pré-escolar.

Em Vinhais, não há aulas em todo o agrupamento.

Manifestação e marcha em Mirandela

Em Mirandela, no maior agrupamento de escolas do distrito de Bragança com mais de dois mil alunos, a adesão à greve nacional por distritos, hoje no distrito de Bragança, foi muito elevada com o encerramento de todas as escolas do primeiro e segundo ciclo, ficando apenas uma atividade letiva residual na escola secundária.

Depois de uma concentração junto à escola sede do agrupamento, cerca de duas centenas de professores, auxiliares de ação educativa, alguns pais e até alunos percorreram a pé, numa marcha silenciosa, o percurso até à Câmara Municipal.

"Juntos para cá do Marão, lutamos pela educação". A mensagem estava escrita num enorme cartaz que vários professores seguravam à frente da marcha.

À lista das reivindicações dos professores já sobejamente conhecidas, as recentes negociações com o Ministro da Educação vieram acrescentar outras preocupações, como a proposta de divisão de quadro de zonas pedagógicas. Implica que um professor de quadro de agrupamento se não tiver o seu horário completo que possa ir lecionar para outro mais próximo, no caso de Mirandela, um professor poderá dividir-se entre lecionar em Valpaços ou Murça, mas isto é penalizador para os professores do ponto de vista salarial, com deslocações que não vai ter apoio para isso e do ponto de vista da sua organização de trabalho”, explica Ana Paula Tomé, do Sindicato dos Professores do Norte, afeto à Fenprof.

Também a proposta do titular da pasta da educação apresentada para os professores contratados é desvalorizada pela dirigente sindical. “Um professor contratado pode ter até quase vinte e tal anos de serviço e agora a proposta é que o professor pode vir a ser contratado com 1095 dias sucessivos e no último ano de concurso tem de estar a exercer funções com horário completo, mas muitas pessoas por uma hora não têm horário completo, por exemplo na nossa região são colocados muitos professores contratados mas dificilmente têm horários completos, pelo que a proposta também não é assim tão favorável quando o senhor Ministro fez passar para a população de que com três anos as pessoas tinham um vínculo, o que não é assim tão linear”, acrescenta.

Gabriela Lomba, mãe de cinco filhos, também marcou presença na marcha silenciosa, solidária com as reivindicações dos professores. “Como tenho alguns filhos que já estão no ensino superior, permite-me fazer um termo de comparação com os que ainda estão no ensino secundário e que realmente esta constante mudança de políticas educativas tem vindo a diminuir a qualidade da escola pública e por isso estou solidária com a luta dos professores”, diz.

O silêncio desta marcha a exigir respeito pelos professores só foi quebrado na chegada à câmara de Mirandela quando foi pedida uma salva de palmas pela defesa da escola pública em Portugal.

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