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5. Operações Militares a 25 de Abril de 1974!

Foi na reunião de Oeiras, a 24 de março, que o MFA marcou a «Viragem Histórica» para antes das comemorações do 1º de maio e se acordou o não envolvimento de civis. O major Otelo Saraiva de Carvalho seria o coordenador operacional, o major Vítor Alves o político e o tenente-coronel Garcia dos Santos o responsável pelas transmissões. O plano de operações, gizado em cima de um mapa do Automóvel Clube de Portugal, estipulava a divisão do território nacional em duas zonas: norte e sul do Douro. A zona sul, por sua vez, era subdividida nos setores norte, centro, sul e Lisboa. A ideia de manobra preconizava um «movimento de fora para dentro», isto é, a convergência das forças do MFA para Lisboa, o mesmo acontecendo a Norte relativamente ao Porto.
O MFA contava com a adesão de grande parte das unidades do Exército, a Força Aérea garantia a neutralidade e a Marinha não se opunha, havendo oficiais a participar a título pessoal. Face ao receio de intervenção aérea durante o desenrolar da operação, a hora H foi marcada para a noite. Em Lisboa, as forças leais ao regime eram as policiais (DGS, GNR e PSP), a Legião Portuguesa (LP) e os regimentos de Lanceiros 2 e de Cavalaria 7 da Ajuda. Fora da capital as unidades aquarteladas em Leiria, Tomar, Torres Novas e Elvas. Com o Posto de Comando do MFA (código «Óscar») instalado no quartel de Engenharia da Pontinha, os objetivos principais a atingir na capital, tendo em conta as unidades apoiantes, eram: Quartel-general (QG); aeroporto da Portela, para isolar a cidade; RTP, Emissora Nacional e o Rádio Clube Português (RCP), para controlo das comunicações; Santuário do Cristo Rei, para monitorizar o movimento rodoviário na ponte Salazar e marítimo na barra do Tejo; sede da DGS e da LP; zona ministerial do Terreiro do Paço. Definiram-se senhas e impunha-se a ação simultânea das unidades para evitar saídas em falso como aconteceu a 16 de março: a canção de Paulo de Carvalho «E depois do Adeus», colocada no ar às 22h55 de 24 de abril, no RCP, era o sinal para se ultimarem preparativos; a «Grândola, Vila Morena», de Zeca Afonso, cantada na Rádio Renascença às 00h20 do dia 25, a hora H.
A força da Escola Prática de Infantaria, comandada pelo capitão Rui Rodrigues, saiu de Mafra pelas duas da madrugada, segundo o trajeto Malveira-Loures-Frielas-Camarate, e dirigiu-se para o Aeroporto da Portela. Em Camarate, devido a uma rua estreita, a coluna foi obrigada a fazer meia-volta, perdendo um tempo que inquietou o posto de comando e enervou o capitão da Força Aérea Costa Martins que a aguardava no local! Pouco depois das 4h, a força chegou e fechou-se o espaço aéreo. Do Campo de Tiro da Serra da Carregueira saiu um contingente, comandado pelo capitão Oliveira Pimentel, em direção à rua do Quelhas, ocupando a Emissora Nacional às 3:15h. Entretanto, elementos da Escola Prática de Administração Militar, chefiados pelo capitão Teófilo Bento, ocupavam a RTP no Lumiar. Na rua Castilho, a Companhia de Caçadores 4241 (vinda de Santa Margarida), comandada pelo tenente Mascarenhas, cercou as instalações do RCP, que foram tomadas pelo grupo chefiado pelo capitão da Força Aérea Costa Neves. Pelas 3h, efetivos da Escola Prática de Artilharia avançaram para Almada e posicionaram as baterias no morro do Cristo-Rei, enquanto forças de Cavalaria de Estremoz tomariam posições, cerca das 7h, no topo sul da ponte Salazar. Por fim, às 03:30h uma companhia do Batalhão de Caçadores 5, de Campolide, comandada pelo capitão Bicho Beatriz, cerca o QG e, pese embora alguns contratempos, toma-o.
Na zona norte, o QG do Porto foi conquistado cerca das 3:30h através de Caçadores 9, de Viana do Castelo, do Centro de Instrução de Condutores Auto 1, de Penafiel, e de tropas Especiais de Lamego, sob comando do tenente-coronel Carlos Azeredo. Na ação foi anulada a resistência do comandante da região militar, que era apoiado por contingentes da GNR e da PSP, sendo que o RI 8, de Braga, e 13, de Vila Real, se recusaram a cooperar na defesa, e o de Cavalaria 6, do Porto, foi neutralizado. No centro, a Figueira da Foz foi ocupada por unidades da cidade, de Aveiro e de Viseu. Consequentemente, depois de conhecida, na Pontinha, a evolução favorável da revolta e o facto de o regime ter sido alertado, tardiamente, o MFA difundiu ao país a primeira comunicação, através do RCP, às 4:26h, informando a população da ocorrência do golpe, apelando à calma e aconselhando as pessoas a ficarem em casa.

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