A Agricultura XI - O reco.
Se todos os animais da exploração merecem a nossa reverência e agradecimento, o reco estará num dos lugares de destaque. Gostaria que nunca me fosse pedido para os elencar, pois seria um trabalho de grande melindre. Os animais maiores, com o seu trabalho, ovelhas e cabras com queijo, leite lã, a criação com ovos e a sua elasticidade de produção…E, no entanto, como não distinguir o reco?
Não são tão porcos como se diz, nem tão estúpidos como consta. São usados em Itália e França para a pesquisa de trufas e são susceptíveis de utilizar trela, como os cães. Se cuidados de perto pelo tratador, chegam a ser mansos. Mas no geral, com o trato regulamentar, são algo ariscos e difíceis de manietar, pesam muito e têm muita força.
O porco tem um papel destacado na economia da casa e da exploração. O tempo de gestação curto e uma prolificidade elevada justificam a sua criação. Podem dar duas ninhadas por ano e chegar aos 18 leitões. O crescimento rápido das crias, e a sua adaptabilidade aos alimentos da exploração, são outro motivo importante, pois são virtualmente quem aproveita melhor os seus restos. Os porcos para fumeiro tinham um peso muito elevado, chegando frequentemente 180 quilos com dois anos de idade. De todo o modo eram a fonte de 100 ou 150 quilos de carne e mais dúzia e meia de leitões por ano, que se criavam ou se vendiam.
Como os animais de tracção, os porcos são uma canseira diária, pior ainda que aqueles, que podem passar meses a pastar sem se pensar neles. Todos os subprodutos da casa (cascas de batata, resíduos vegetais, restos de alimentação) eram recolhidos na cozinha, na caldeira, e reservados para as viandas, que era o nome dado aos alimentos que diariamente se preparavam para os porcos. As já faladas beterrabas e nabos, com a rama respectiva, eram utilizados na sua alimentação, em tempos mais tardios misturados com farelos - os farelos são restos menos nobres da moenda do grão e vendiam-se como subproduto.
Quem os tinha deixava-os em espaços cercados a aproveitar erva verde. No sul do país há ainda explorações onde estes animais têm um período ao ar livre, para aproveitar a bolota, mas também a erva espontânea, que comem facilmente.
Por vezes, de inverno, quando o lume era mais quente na lareira, beterrabas, nabos ou abóboras eram cozidos na caldeira ao lume, pois havia a assumpção verdadeira, de que aproveitavam melhor aos porcos. As abóboras, com o seu longo poder de conservação, eram um alimento precioso, pois era preciso alimentar os animais ao longo de todos os dias do ano, incluindo aqueles em que o tempo pouco ou nada ajudava. O verão era uma dessas épocas e era tradicional utilizar a folhas dos olmos. Hoje já quase não há olmos, foram-se, vítimas de uma praga que os matou. Em alguns locais voltam a rebentar, pela raiz, mas secam em poucos anos. Para além de imponentes, utilizava-se a folha para os recos. Era frequente ver pessoas com sacos presos ao cinto a trepar aos olmos para ripar, literalmente, as folhas à mão, que aqueles animais consumiam muito bem.
Mas não são ruminantes e há muitos pastos que lhes não aproveitam.