A opinião de ...

Uma escolha acertada

Todos nos educamos uns aos outros, com a mediação do mundo, e consideramos de máximo valor e exigência a Educação, os seus ideais, os seus pilares, o sentido da vida e a vida com sentido que nos dá.
Talvez por isso facilmente nos damos conta do quão complicado é a ação educadora formal, intencional, sistemática, organizada, gradual e duradoura, em específico, pelo que a sociedade criou o Sistema Educativo onde, na Escola, os Professores se constituem como agentes principais de serviço público nessa tarefa primordial. Professores que especificamente dedicam a sua vida a esta nobre arte, missão e vocação, vivendo na e para a Educação.
Contudo, não está famoso o panorama dos Professores em Portugal.
Desde logo, o envelhecimento. Segundo o Relatório anual Education at a Glance de 2021, da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico), dado a conhecer em 16 de setembro último, dos 147.041 professores, no ano de 2020, não contabilizando o Ensino Superior (Pordata), apenas 1% dos professores portugueses possui uma idade inferior aos 30 anos e mais de 44% dos professores do ensino básico e secundário têm mais de 50 anos (sendo a média da OCDE de 35%) colocando-nos entre os mais velhos de todos os países da OCDE.
Por outro lado, o sentido desencanto com a profissão e a exaustão emocional. Apesar de ser um estudo de 2018, elaborado pela FENPROF – que contou com 18000 docentes, nele foi evidenciado por metade dos inquiridos que “não se sentem realizados na docência” e 75% dos professores em funções, apresentam níveis preocupantes de exaustão emocional e, por isso, a vontade expressa de se reformarem o mais cedo possível. Penso que estas tendências serão ainda hoje evidentes.
As razões apresentadas para estas conclusões foram a (in)disciplina, a burocracia, os baixos salários (que aliás diminuíram em 6% face à média da OCDE segundo o Relatório acima citado), a ausência de progressão justa na carreira, conflitos de gestão, etc.
Para cúmulo, existem cursos para Professores quase sem candidatos, e o mais surpreendente, é que a maioria, não chega sequer aos 10 candidatos. Veja-se, nesta data, por exemplo, o Curso de Educação Básica do IPB, com 54 vagas iniciais na 1.ª fase, tendo sido colocados só 4 alunos!
Enfim, o panorama atual dos Professores portugueses está longe de ser encorajador, e não é totalmente descabido desesperar com o não aparecimento de novas gerações de Professores. Aliás, esta é já uma realidade em determinadas áreas do País e em determinadas áreas disciplinares, como alertam Diretores Escolares e Sindicatos. Até em EMRC!
Deste modo, a celebração do Dia Mundial do Professor, no próximo dia 05 de Outubro, é também uma oportunidade para realçar que apesar de uma escolha difícil, a opção de ser Professor será uma escolha acertada, pois quem a exerce compreende, de modo único, que não há atividade profissional mais gratificante do que ajudar os outros a crescer em espírito e em sabedoria.
Uma oportunidade para reafirmar a importância social desta profissão que tem o condão de proporcionar a descoberta do saber a quem o desconhece, sentindo a alegria de cada aula ser uma aventura (e não há duas aulas iguais!), ajudando cada Aluno na sua curiosidade, no seu talento, na sua inteligência e convicção, a ser o que é e não o que os outros querem que seja.
Sobretudo, uma oportunidade para proporcionar a descoberta de quão sublime é esta profissão e que recompensas grandes dá quando os que a exercem com arte, amor e consciência, são reconhecidos pelos seus antigos Alunos, ouvindo das suas palavras expressões como “gostava muito das suas aulas” ou “aprendi muito consigo” ou “obrigado por estar sempre disponível para me ouvir e ajudar”.
Neste Dia Internacional do Professor fica também a nossa memória agradecida a todos aqueles que foram nossos Professores e que na sua ação educativa depositaram em nós as sementes da liberdade e da esperança.

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3852

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