A opinião de ...

Dado....

Diz o povo que a cavalo “dado” não se olha o dente. Na História que vou contar, nada foi de graça, foi hecatombe orçamental. Naqueles tempos, nos idos anos de 1400, no reinado do patriarca da Ínclita Geração, El-Rei D. João I, Portugal atravessa pequena crise económica e o monarca, em segredo, congemina desviar o tráfego marítimo do Mediterrâneo Ocidental para o portentoso estuário do Tejo, de barriga aberta para o receber.
Sem abrir o jogo chama os dois filhos de confiança, os capazes para tamanha audácia, os Infantes D. Pedro e D. Henrique, e incumbe-os de sondar as condições para a construção de uma gigantesca armada, 70 no Porto e 142 em Lisboa. D. Pedro sondará a capital e D. Henrique, nascido na Invicta, auscultará os Estaleiros do Ouro, no Cálem, e os Estaleiros de Miragaia, ambos na margem direita do Douro, junto à Foz, na cidade do Porto.
A empreitada arranca, a azáfama é grande, o Porto em festa por mais uma vez contribuir para o engrandecimento da Pátria. Os Cordoeiros do Monte do Olival, ali junto aos Clérigos, nos terrenos da hoje Cordoaria, tecem as cordas de amarração e os Ferreiros da Ferraria de Baixo, ali em Miragaia, elevam as forjas ao rubro na elaboração da panóplia das ferragens necessárias à construção de tamanha armada. Os portistas, em suprema magnanimidade, doam as carnes ficando com as entranhas, as tripas, ganhando o cognome de Tripeiros.
Para despistar os porquês foram colocados a correr dois boatos: a opulência serviria para transportar, com pompa e circunstância, a Infanta D. Helena ao casamento com Rei Inglês, ou levar El-Rei D, João I e toda a corte, em peregrinação ao S. Sepulcro, em Jerusalém.
A 10 de Junho de 1415 o Infante D. Henrique zarpa do Porto ao comando de 70 navios rumo ao estuário do Tejo. A 25 de Julho a totalidade da armada, 212 navios, 20.000 homens, os Infantes D. Duarte, D. Pedro, D. Henrique e o Condestável D. Nuno Álvares Pereira, com D. João I ao leme, partem de Lisboa à conquista de Ceuta, cidade controladora do tráfego marítimo comercial do Mediterrâneo Ocidental. Sem resistência, a 22 de Agosto os portugueses tomam contam desta fabulosa cidade Mourisca.
Há sempre um se nestas epopeias, os Mouros não dormiam, sem guerreiros, mas com estratégia, tinham tudo preparado, o comércio é desviado para portos por si controlados. Os portugueses, em Ceuta, ficaram a “ver passar os navios” perdendo-a de novo, 200 anos depois, na Restauração da Independência, após Filipes espanhóis. Este facto, a Conquista de Ceuta, fica para a História como um “dado” para o déficit orçamental.
Na India de há 5000 anos é inventado um objecto de prazer, suicídio e crime, um poliedro de quatro ou mais faces. Num D6, seis faces iguais, a soma de pontos de faces opostas é sempre 7. Para o bem e para o mal, da matemática lúdica das probabilidades, para todos nós, em qualquer D Platónico, (D4, D6, D8, D12, D20…): - a soma de pontos de faces opostas é sempre o número de faces mais 1. Eis outro, não histórico, mas perigoso, Dado…

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