CICLISMO

Flávio Cipriano mostra 'pedalada' entre vitórias e a formação de atletas

Publicado por Guilherme Moutinho em Seg, 09/01/2025 - 10:20

Flávio Cipriano, brigantino de 33 anos, reencontrou no ciclismo e no BTT um espaço de superação pessoal e de partilha, após uma década afastado das competições. No passado mês de julho conquistou a Taça Regional de Maratonas XCM da ARCVR em Master 30, marcando um regresso em grande a uma paixão que começou ainda na adolescência.

“Comecei a praticar em 2009. Sempre gostei de andar de bicicleta numa vertente mais lúdica, como todos os miúdos. Um dia convidaram-me a participar num passeio e os mais experientes diziam que eu tinha bastante aptidão. Com 16 anos e somente dois meses de treino, entrei para uma equipa de Vila do Conde. No primeiro ano, no Nacional de Juniores, fiquei em 8.º na Volta a Portugal de Juniores. Foi isso que me abriu portas para esta paixão”, recorda.

A estreia em competição está bem viva na memória. “Imaginem um miúdo com 16 anos e dois meses de experiência a competir num pelotão nacional com 120 rodas a 40 ou 50 km/h. Foi um misto de emoções, confuso pela tática, mas de muita adrenalina. Acabei nos 30 primeiros, um resultado risonho.”

Mais do que resultados, Flávio destaca o percurso humano e coletivo que o ciclismo lhe proporcionou. “Foi mais gratificante trabalhar para a equipa em objetivos importantes do que as vitórias individuais. O ciclismo é uma escola de vida, nem sempre é sobre ganhar. Representar Portugal pela Seleção Nacional de Juniores também foi marcante.”

Após dez anos de paragem desportiva, longe das bicicletas e da competição, decidiu voltar a pedalar. “Regressei para desfrutar e percebi que o ‘bichinho’ ainda cá estava. A evolução surgiu gradualmente e a Taça de XCM em Vila Real é das competições regionais com maior nível em Portugal. Foi um objetivo pessoal e da equipa, e concretizei da melhor forma.”

Mas nem tudo foi fácil. “A minha saúde este ano esteve longe de estar a 100% e isso limitou-me bastante. Os adversários eram quase todos do campeonato nacional e os percursos muito técnicos e acidentados em comparação com Bragança.”

A preparação exigiu paciência. “Estive dez anos sem competir, tive de respeitar o corpo. Este regresso foi com cabeça fria para evitar o 'overtraining'. O menos é mais”, sublinha.

Na rotina de atleta amador, o equilíbrio é palavra-chave. “Treino cinco a seis vezes por semana, entre intensidade, volume baixo e ginásio duas a três vezes. Mas é preciso ajustar ao dia a dia, não copiar ninguém. A alimentação e a recuperação são fundamentais.”

Conciliar treinos, vida pessoal e trabalho não é tarefa simples. “Nem sempre é fácil, há mais dias maus do que bons. Mas considero mais difícil ser atleta amador ativo do que profissional, porque temos de gerir muitas mais responsabilidades.”

Para além da competição, Flávio dedica-se também a treinar outros ciclistas, aproveitando a sua formação académica. “Sou pós-graduado em Exercício e Saúde, sempre gostei de perceber como o corpo funciona. Comecei por ajudar amigos e eles gostaram. Mais tarde, no mestrado, criei o projeto APEC em colaboração com docentes do IPB e comecei a prescrever treinos.”

Hoje acompanha atletas com perfis distintos. “Alguns visam a competição, mas 80% procura evolução pessoal e preparação para desafios. Tento sempre adequar os treinos à vida profissional, familiar e social de cada um. Este ano tive bastantes pódios, mas também conquistas pessoais bonitas, como um atleta que fez Bragança-Vaticano ou outro que melhorou o tempo numa prova em mais de uma hora.”

O segredo, garante, está na base. “Fazer o básico bem-feito. No desporto, como na vida, não se constrói um bom telhado sem fundações sólidas.”

O ciclista brigantino prepara agora novos desafios. “Em setembro participo na Ibérico Bike Race, em Montalegre, e quero completar o Open de XCM de Bragança, onde sigo líder em Master 30.”

Com a motivação intacta, Flávio acredita que a bicicleta é mais do que um desporto. “O ciclismo é um estilo de vida. Enquanto o meu corpo permitir, continuarei. Gosto de treinar e de competir.”

E deixa uma mensagem a quem começa. “Desfrutem da bicicleta, da natureza, das superações pessoais e do convívio. Se quiserem competir, trabalhem com humildade e respeito. Neste desporto, como na vida, nada vem fácil e tudo demora o seu tempo.”

No futuro, quer ser recordado de forma simples. “Como alguém que é feliz a andar de bicicleta e que ajuda o desporto a crescer na região”, finaliza o brigantino que integra a recém-criada União Ciclista de Bragança.

Foto: DR

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