A opinião de ...

A importância do Brasil para Portugal

Portugal teve três Impérios, sendo o anunciador do futuro Império Euromundista titulado pela frente atlântica europeia, e desaparecido no consequencialismo da 2.ª Guerra Mundial, assim chamada pelos efeitos e não pelas suas causas, porque se tratou de um conflito entre ocidentais.
 
Não sendo possível esquecer, ou pelo menos não sendo licito que tal aconteça tão frequentemente na historiografia contemporânea, que a epopeia marítima portuguesa se traduziu numa intervenção pioneira e causal no processo da globalização que nos desafia neste século XXI, temos de registar que cada um desses Impérios terminou com o Estado português em situação de falência.
 
O Império da Índia, principal inspiração de Os Lusíadas de Camões, terminou em Alcácer Quibir, com a morte de D. Sebastião, o Rei menino, e com o Estado falido; o segundo Império, que foi o do Brasil, terminou com a proclamação de Independência por D. Pedro I, e o Estado português estava falido; o último Império, principalmente africano, terminou em 1974, e a evolução posterior encontra o Estado em situação de falência e protetorado, nesta entrada no terceiro milénio.
 
Neste complexo processo, semeado de sacrifícios e de limitada expressão de desenvolvimento na metrópole, o Brasil destaca-se, no património imaterial português, como a sua mais valiosa contribuição para a estrutura da área ocidental, sobretudo atlântica, resultado sem igual da maneira portuguesa de estar no mundo por onde navegou, governou, e implantou modelos de comportamento.
 
Naturalmente, o património imaterial brasileiro somou valores de outra origem, nativos, africanos, italianos, alemães, japoneses, mas o eixo da roda, com expressão unificadora da língua, é o legado português, por seu lado elemento fundamental da identidade, apoiada na história, com que Portugal enfrenta, com a sua pequena dimensão de território, gentes, e recursos, os desafios da integração europeia, e os riscos desta ver enfraquecer o seu projeto.
 
Por isso mesmo, a CPLP, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, é uma janela de liberdade para Portugal regressado à Europa, como fizeram todos os países que partilharam o Império Euromundista, em execução do projeto da ONU para a descolonização. E nessa espécie de regionalismo transversal sem equivalente nas estruturas posteriores da França, da Inglaterra, da Holanda, da Bélgica, e da Espanha, o Brasil é uma esperança de presença talvez diretiva ou inspiradora dos consensos necessários entre parceiros que são todos marítimos, com recursos variáveis nem sempre facilmente mobilizáveis em tempo curto para o desenvolvimento sustentado, mas podendo multiplicar, pela força da união, os projetos úteis para a utilidade comum e do mundo, designadamente nas atividades económicas marítimas e de segurança dos mares.
 
Desde a independência até pelo menos o último governo de Getúlio Vergas, o Brasil foi um destino preferido da emigração portuguesa, sendo que as remessas das comunidades para Portugal foram uma contribuição fundamental para o equilíbrio das contas externas do país.
 
Nesta data, quando o Brasil é um dos países emergentes mais notado, a nossa emigração mudou de definição, qualidade científica, técnica e profissional, sendo no domínio da livre circulação de iniciativas económicas e financeiras partilhadas que a articulação tem de ser desenvolvida na linha da articulação das Universidades de Língua Portuguesa, empenhadas conjuntamente no avanço do saber e do saber fazer, sem deixar enfraquecer a presença reciproca das humanidades, com expressão na literatura, na música, na arquitetura, nas artes, tudo o que está a enfraquecer no ocidente, progressivamente submetido a uma teologia de mercado à medida que deixa progredir a decadência.
 
Nenhuma comunidade de ascendência lusíada, como acontece nos EUA e no Oriente, nenhum Estado de língua portuguesa, pode ser indiferente ao fortalecimento da parte que, em comum, lhes cabe no património imaterial comum da Humanidade, nela a CPLP não pode dispensar a criatividade e dimensão do Brasil, e Portugal não pode evitar reconhecer que o fortalecimento e defesa da maneira portuguesa de estar no mundo, parte do cimento da CPLP, é vital para a sua liberdade, igual entre iguais numa organização em que sem o Brasil o futuro seria mais inquietante.

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