Natal da minha meninice!...
É tão comum, quanto natural, falar ou escrever sobre o Natal, que muitas vezes, se banaliza e não se vive e analisa o seu verdadeiro significado.
Este ano, apetece-me escrever sobre a simplicidade do Natal da minha meninice. Passado e vivido numa aldeia, onde, na altura, não ainda não havia telefone, energia elétrica, rede de abastecimento água potável, ou mesmo qualquer ligação rodoviária. Talvez, por isso, afetivamente, o Natal, naquele nosso mundo rural, fosse vivido e sentido de maneira diferente.
Não me esqueço da preparação natalícia que a minha mãe fazia, sobretudo para os presentes que o Menino Jesus me iria trazer. Ficava, entusiasmado, eufórico, ansioso. Não se falava em Pai Natal, mas sim, no Menino Jesus, que descia pela chaminé para nos trazer os presentes, que colocaria no sapatinho. Por isso, religiosamente, colocávamos os sapatos junto à lareira, a que chamávamos lume, debaixo da chaminé, quem a tinha. Sim, porque nem todas as casas tinham chaminé.
Na noite, de consoada, quase não dormia. No dia de Natal, logo pela manhã, lá ia eu à cozinha ver o que o Menino Jesus me tinha deixado. Um simples brinquedo, barato, pois o dinheiro estava caro, uma tabuada, umas cores Viarco… Uma coisa é certa, nunca mais me esquecerei dessas vivências. Da afetividade familiar, da alegria que imperava no nosso humilde lar.
Mesmo com a azáfama da azeitona, a minha mãe, não deixava de fazer os fritos inerentes à consoada. Ainda me lembro, antes de termos fogão, como era o mais novo, não que o meu irmão, Moisés, não fosse até bastante colaborante, quando a minha mãe me pedia para ir ao quintal arranjar uns “guicínhos” para colocar na lareira por baixo da frigideira, com pernas, também conhecida por sertã, para que os fritos ficassem bem, saborosos e apelativos, e de colocar o açúcar nas rabanadas, também.
A Ceia de Natal e sua envolvência, eram potenciadoras de entusiasmo, de alegria e bem-estar familiar, dos sorrisos afetivos dos meus pais, da interatividade positiva dos meus irmãos. Ah!...o “vinho fino”, que o meu pai dizia ter vindo do Porto, também era presença habitual na mesa, embora, lá em casa, o consumo etílicas fosse reduzido. A Bênção da Mesa, no final da Ceia de Natal, acontecia num clima de delicadeza, agradecendo ao Senhor o alimento recebido. Aliás, ritual que se cumpria diariamente, sempre.
Enfim, tanta recordação positiva!... Era tudo tão familiar, a aldeia, os amigos… da meninice…da juventude!...
A alegria, a amizade, a educação e o respeito, que não se lia em parte nenhuma, mas se aprendia, imitando o testemunho dos mais velhos, que transparecia, se vivia, fluentemente, e se exercia, com toda a gente. Valores que permanecem na memória de termos sido também nós respeitados, amados, reconhecidos, na família, na Igreja, no ambiente social local, na escola da aldeia.
Na verdade, o Natal também nos leva a refletir sobre o quanto é importante termos consciência do nosso passado e de que a nossa vida e tudo o que temos é consequência de um cuidado, de um amor, que nos vem dos nossos pais, dos familiares, dos amigos, dos “Outros”, fazendo-nos a sentir bem, por termos sido educados e ficarmos conhecedores de todas as regras de boas maneiras.
É neste contexto que, recordando o Natal na meninice, desejo a todos Festas Felizes, num contexto em que a promoção da paz, da solidariedade, da tolerância da concórdia e do respeito pelo “Outro”, sejam remédios eficazes contra a má-educação, o egoísmo, a arrogância, a corrupção, a deselegância, a falta de AMOR… de FÉ!...
Um Santo Natal!..