A opinião de ...

Se D. José Policarpo… …tivesse sido futebolista!...

Faleceu, inesperadamente, na semana passada, o patriarca emérito de Lisboa, D. José Policarpo. Não tive oportunidade de o conhecer pessoalmente, ao contrário do que acontece com o atual Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Este foi, enquanto Bispo do Porto, um dos oradores convidados para as célebres Conferências na Paróquia de Santo Condestável, de Bragança, quando ainda se realizavam as distintas Festas Anuais. Gostei, na verdade, do contacto que tive com D. José Clemente e da forma como se expressa sobre a instituição – Igreja e os seus valores.
Tinha, porém, por D. José Policarpo, uma especial admiração, enquanto homem da Igreja e cidadão do Mundo.
Confesso mesmo, que, sobretudo como compatriota, fiquei muito entusiasmado com a possibilidade de, nos dois últimos conclaves, poder vir a ser eleito Papa. É certo que ele recusava essa ideia, mas, a verdade é que, D. José Policarpo, pela sua posição no âmbito da Igreja, chegou a ser apontado como eventual candidato ao mais alto cargo do Vaticano.
Digamos que o 16.º patriarca de Lisboa, cargo que exerceu durante 15 anos (1998-2013), além de um pastor de referência na Igreja, do qual o Papa Francisco dizia ser “um apaixonado pela busca da verdade e solícito a colocar os dons ao serviço do povo de Deus”, foi também um académico e escritor, com cerca de meia centena obras publicadas e um cidadão atento aos sinais do tempo e às convulsões sociais, postura que sobressaía nas várias intervenções críticas que protagonizava.
Com a sua inegável capacidade intelectual, complementada com a enorme dimensão humana, D. José Policarpo, desenvolvendo um valioso desempenho no contexto da vida da Igreja Católica, tornou-se figura marcante no nosso país e no mundo.
Estamos, com efeito, perante um português de enorme prestígio internacional. Estudou, trabalhou, lutou pelos valores cristãos e da dignidade humana, granjeando, sustentada e transversalmente, admiração nos mais variados setores da sociedade. Teria, provavelmente, como ser humano, os seus críticos, sobretudo porque não se tratava de um “acomodado”. Porém, não deixará de ser uma figura nacional que vai, certamente, marcar a história contemporânea.
Só que, não obstante todo o seu saber, percurso de vida e intervenção social, não foi futebolista profissional. Ou melhor, não foi “profissional da bola” durante uma dúzia de anos, sem nada mais fazer o resto da vida. Nem sei se tinha jeito para o futebol.
Talvez por isso, a notícia da sua morte, bem como as inerentes cerimónias fúnebres, não tenham suscitado atenções populistas generalizadas, manifestações de paixões exacerbadas, como alguém, com o devido respeito, cuja vida se resumiu a dar uns pontapés na bola, nem a mesma mediatização jornalística nem, tão pouco, as motivações/considerações de tantas figuras públicas e políticas. Nem três dias de luto nacional. Um, simplesmente!...
Pelos vistos, e contra factos não há argumentos, uma grande parte do povo português, não excluindo muitos políticos populistas, dá consideravelmente mais valor, não aos valores do desporto em si, mas ao futebol, ou seja à “boleirice”, que às lideranças religiosas e espirituais, de inegável credibilidade e prestígio, a nível nacional e mundial, com exemplos de vida, obra escrita e feita!...
Com efeito, sem haver dúvidas, D. José Policarpo, merecerá o eterno repouso no Panteão dos Patriarcas, no Mosteiro de S. Vicente de Fora.

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